Elizabeth Bishop
A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.
(tradução de Paulo Henriques Britto)
6.1.15
11.9.14
"Amor e medo são duas forças. Faça o que fizer sob o medo, tomará a sua
vida longe de você. Faça o que fizer sob amor, deve dar-lhe cumprimento.
Mas o amor não irá satisfazer a sua emoção. Essa é a parte triste
disso. O amor não irá satisfazer a sua neurose. O amor não vai
satisfazer o seu ego. Amor e Deus não têm dimensão. Ego tem todas as
dimensões. Então, quando você está apaixonado, você não tem dimensão.
Quando você tem dimensão, você não está no amor. E esta referência
cruzada da vida tira 99,9% de sua vida e você está totalmente em branco,
no momento da morte, você não realizou sua única chance que Deus lhe
deu através de um corpo humano, e o amor era sua última chance."
Yogi
Bhajan
2.6.14
continuo a mesma!
sigo comendo madrugadas
bebendo noites
em sachês de morangos silvestres
com folhinhas de lua-hortelã.
25.5.14
18.4.14
de quanta eternidade se faz um instante?
de quanta o quê?
eternidade.
por quanto instante?
de bem pouca.
pouca o quê?
eternidade.
ora,
depende do instante!
esse não.
esse também não.
mas de repente, eis que aquele...
de um: dentre tantos.
ora,
depende de quanta eternidade!
de toda ela.
de menos dessa.
essa sim,
essa também sim.
e de repente, eis que aquela...
enquanto o instante é pleno.
enquanto o instante é sentido.
instante sem sentido de tanto eterno.
enquanto a eternidade dure.
enquanto a eternidade perdure.
enquanto a eternidade perfure
o presente...
instante se faz de necessário.
de um necessário eterno enquanto instante.
enquanto dose.
enquanto peso.
enquanto medida.
enquanto leveza.
enquanto desatina.
quanta eternidade há em um instante!
enquanto beijo molhado.
enquanto piscadela.
enquanto abraço apertado.
enquanto goteira.
um instante se faz de tantas eternidades
enquanto tudo cabe em um por enquanto.
3.3.14
um prosac com cachaça, moça?
**
"— por favor!
antes, um copo d'água para engolir umas pastilhas de clichê"
sentada na mesa do bar
dá de ombros pra ficar mais fácil escalar
os destroços de um predestino sem definição
repassa a lição de um sábio budista:
(são nos descaminhos que as frutas mais saborosas são comidas)
foi depois dessa descoberta que passou a-se-meter-
em-beco-sem-saída
e a entender tudo a partir do ponto-de-vista-da-fotografia
mistura na bebida um pouco de luxúria e preguiça pra esquecer
o incômodo do sapato furado colado com chiclete
e aquele calo nas cordas vocais
— há contra-gotas de alma na calma do vinho —
(receita médica guardada na bolsa)
um tempo fugaz a atropela a cem anos de solidão por hora
marcados no velocímetro
a ampulheta no meio da ladeira não pára pra prestar socorro
e no fim do amor alguém lhe pergunta:
o que é eterno?
ela atropelada por um lado se vira sem resposta
e segue a derramagem do tempo
espera a última gota d'areia cair na menina dos olhos
põe as cartas na mesa
e se choca com a manchete do dia:
"suicídio no jornal ninguém mais lê – esquece"
e ao encontrar-se na cartomancie o seu fastio, alguém grita:
"— mais uma bica de cachaça, garçom!
que essa moça tá precisando de mais precipício na veia
e espanto na hora da queda"
[ instante descongela]
Ufa! de chapada não cai,
...
e dorme na mesa do bar o sono dos inocentes
**
antes, um copo d'água para engolir umas pastilhas de clichê"
...
dá de ombros pra ficar mais fácil escalar
os destroços de um predestino sem definição
repassa a lição de um sábio budista:
(são nos descaminhos que as frutas mais saborosas são comidas)
foi depois dessa descoberta que passou a-se-meter-
em-beco-sem-saída
e a entender tudo a partir do ponto-de-vista-da-fotografia
mistura na bebida um pouco de luxúria e preguiça pra esquecer
o incômodo do sapato furado colado com chiclete
e aquele calo nas cordas vocais
— há contra-gotas de alma na calma do vinho —
(receita médica guardada na bolsa)
um tempo fugaz a atropela a cem anos de solidão por hora
marcados no velocímetro
a ampulheta no meio da ladeira não pára pra prestar socorro
e no fim do amor alguém lhe pergunta:
o que é eterno?
ela atropelada por um lado se vira sem resposta
e segue a derramagem do tempo
espera a última gota d'areia cair na menina dos olhos
e se choca com a manchete do dia:
"suicídio no jornal ninguém mais lê – esquece"
...
e ao encontrar-se na cartomancie o seu fastio, alguém grita:
"— mais uma bica de cachaça, garçom!
que essa moça tá precisando de mais precipício na veia
e espanto na hora da queda"
...
[instante congela]
uma paradinha por fim ao apreciar
a última gota d'areia em suspensão
uma paradinha por fim ao apreciar
a última gota d'areia em suspensão
!
[ instante descongela]
Ufa! de chapada não cai,
...
e dorme na mesa do bar o sono dos inocentes
**
10.2.14
8.1.14
:
escrevo porque eu preciso escrever.
se escrever fosse para outro fim,
minha mão repousaria em um absoluto ato de subversão
e se calaria, morosa, preguiçosa, fazendo fita,
como quem não sabe balbuciar estas mal traçadas linhas.
se escrever fosse para outro fim,
minha mão repousaria em um absoluto ato de subversão
e se calaria, morosa, preguiçosa, fazendo fita,
como quem não sabe balbuciar estas mal traçadas linhas.
7.1.14
amar, crime perfeito
*
é engraçado sentir que amar
é cometer um crime perfeito.
então eu sussurro baixinho:
------ Eu te amo!
para que não te assustes
para que não te desfaleças.
e mal me ouves e me ralhas
e me julgas e medrosa gaguejas:
------ Silêncio! porque amar
é cometer um crime perfeito.
e ficas, assim, de faces rosadas
e mãos recolhidas ao peito.
como sou, pois, ré confessa
calo-me em um beijo de perjuro
prendo-me em teu abraço carcereiro
e que de teu coração eu nunca mais saia!
ah! amar é cometer um crime perfeito.
e a tarde em estrelas se desaba
anunciando a noite do juízo final.
é engraçado sentir que amar
é cometer um crime perfeito.
então eu sussurro baixinho:
------ Eu te amo!
para que não te assustes
para que não te desfaleças.
e mal me ouves e me ralhas
e me julgas e medrosa gaguejas:
------ Silêncio! porque amar
é cometer um crime perfeito.
e ficas, assim, de faces rosadas
e mãos recolhidas ao peito.
como sou, pois, ré confessa
calo-me em um beijo de perjuro
prendo-me em teu abraço carcereiro
e que de teu coração eu nunca mais saia!
ah! amar é cometer um crime perfeito.
e a tarde em estrelas se desaba
anunciando a noite do juízo final.
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