a estante vazia
dos livros sem assunto
dos bibelôs sem charme de mãos dadas
as paredes vazias
dos quadros sem viagens
das molduras sem fotos de namoro e um quase
as gavetas vazias
da bagunça costumeira
dos objetos perdidos à vista
a cama vazia
dos lençóis abandonados
dos corpos nus aconchados e acolchoados
o prato vazio
e uma colher que tirita à espera
de sua boca e um ranger de dentes
porém
há uma geladeira cheia
há uma geladeira cheia
de frutos encerados de tempo
e uma translúcida garrafa de água babujada pelo meio
e uma translúcida garrafa de água babujada pelo meio
em sua porta entreaberta
um poema grita num pote
um poema grita num pote
[hermeticamente fechado]
conservas de amor:
conservas de amor:
estalac-ti-tes
estalag-mi-tes
e um ai.
2 comentários:
é possível caminhar pelos dizeres como se eu caminhasse pela casa, cada canto, como uma câmera que me propõe a imagem, revelando-a no seu presente e na sua essência... Adorei
obrigada pela visita e a leitura carinhosa, gata. bjo
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