27.7.13

Canção

O peso do mundo
        é o amor.
Sob o fardo
        da solidão,
sob o fardo
        da insatisfação

        o peso
o peso que carregamos
        é o amor.

Quem poderia negá-lo?
        Em sonhos
nos toca
        o corpo,
em pensamentos
        constrói
um milagre,
        na imaginação
aflige-se
        até tornar-se
humano –

sai para fora do coração
        ardendo de pureza –

pois o fardo da vida
        é o amor,


mas nós carregamos o peso
        cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
        finalmente
temos que descansar nos braços
        do amor.

Nenhum descanso
        sem amor,
nenhum sono
        sem sonhos
de amor –
quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
        ou por máquinas
o último desejo
        é o amor
– não pode ser amargo
        não pode ser negado
não pode ser contido
        quando negado:

o peso é demasiado

– deve dar-se
sem nada de volta
        assim como o pensamento
é dado
        na solidão
em toda a excelência
        do seu excesso.

Os corpos quentes
        brilham juntos
na escuridão,
        e mão se move
para o centro
        da carne,
a pele treme
        na felicidade
e a alma sobe
        feliz até o olho –

sim, sim,
        é isso que
eu queria,
        eu sempre quis,
eu sempre quis
        voltar
ao corpo
em que nasci.


Allen Ginsberg

Uivo, Kaddish e outros poemas; tradução de Claudio Willer -- L&PM, 2010

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