"— por favor!
antes, um copo d'água para engolir umas pastilhas de clichê"
...
dá de ombros para ficar mais fácil escalar
os destroços de um predestino sem definição
repassa a lição de um sábio budista:
(são nos descaminhos que as frutas mais saborosas são comidas)
foi depois dessa descoberta que passou a se meter
em-beco-sem-saída
e passou a entender tudo a partir do ponto-de-vista da fotografia
mistura na bebida um pouco de luxúria e preguiça pra esquecer
o incômodo do sapato furado colado com chiclete
— há contra-gotas de alma na calma do vinho —
(receita médica guardada na bolsa)
um tempo fugaz a atropela a cem anos de solidão por hora
marcados no velocímetro
a ampulheta no meio da descida não pára para prestar socorro
e no fim do amor alguém lhe pergunta:
o que é eterno?
ela atropelada por um lado se vira sem responder
e segue a derramagem do tempo
espera a última gota d'areia cair
e se choca com a manchete do dia:
"suicídio no jornal, ninguém mais lê – esquece"
...
e ao encontrar-se na cartomancie o seu fastio, alguém grita:
"— mais uma bica de cachaça, garçom!
que essa moça tá precisando de mais precipício na veia
e espanto na hora da queda"
...
[instante congela]
uma paradinha para apreciar
a última gota d'areia em suspensão
uma paradinha para apreciar
a última gota d'areia em suspensão
!
[descongela]
Ufa! de chapada não cai,
...
e dorme na mesa do bar o sono dos anjos
**
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