13.7.09

mais um poema de renato mendes

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Capa

Fosse eu, apenas, seria sempre alegre...
Meu problema são as máscaras
que carrego comigo desde que fiquei
sem alma (a partir do momento que nasci)...

Às vezes eu consigo me ser,
Fico alegre, ouço mais pássaros...
O mundo segue menos barulhento,
As plantas não estão reclamando,
As águas mais límpidas...
Assim... não, não quero nada...
nada além disso...
Ah!, mas... se fosse eu apenas...

Acendo meu cigarro...
Mas... algo me incomoda...
É que não fumo,
Não sei por que o acendi,
Não sei nem por que o tenho...
Fosse eu apenas...
Mas não sou...
As minhas máscaras

(que sempre quis guardar nos fundos da casa)...

Fosse uma casa mais quente,
Não teria por que reclamar que é,
Quando me sento (escondido),
Escura e fria,
E por sua escuridão e gelidão,
Já foi, várias vezes, arrebatado o meu sorriso...

Fosse eu apenas,
Isso não aconteceria...
Meus olhos brilhariam mais
E, quem sabe, talvez até me recordasse de o que é um abraço...
Fosse eu apenas...

Talvez (fosse eu apenas)
eu não me importasse de arrumar minha cama,
Nem de ir trabalhar....
Mas a minha solidão
(que, aliás, não é minha, pertence às máscaras...)
simplesmente me dominou...
É nestes momentos,
Em que minhas máscaras tomam-me o corpo,
Sem a principal
(que a muito custo tenho tentado achar),
A alma, a primeira máscara...
É nestes momentos que percebo que,
Fosse o chão mais macio,
Eu já teria me afundado
E, finalmente, desaparecido...



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Renato Mendes Oliveira, aluno da Escola da Serra onde trabalho, 16 anos, antes de qualquer definição: poeta! hoje posso dizer com orgulho, meu aluno de espanhol. aluno meio relapso como todo adolescente que se descobre, mas muito sério no seu fazer poético. também excelente contista. outro orgulho meu: me escolheu como leitora. sempre me procura pelas dependências da escola para me entregar poemas e, da última vez, me presenteou com um belíssimo conto que me deixou encantada pela originalidade da composição literária e as artimanhas de uma linguagem inusitada que subverte o tempo linear e a estrutura convencional da narrativa. esse poema que hoje aqui edito fecha o conto. só mesmo lendo Renato Mendes em toda a sua profundidade e/ou conversando com ele é que se pode perceber o quanto que é especial. sorriso, tato, sensibilidade e expressividade poética se somam no carisma desse menino que tem um futuro literário de reconhecimentos, histórias e muita poesia pela frente. já me conquistou como leitora assídua e reverente à sua obra que nasce e floresce. os frutos? são saborosos textos que dão água na boca.

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