13.3.09

3 poemas :: de renato mendes oliveira


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Antes do descobrimento,
um nativo pensou,
olhando as árvores:
— Fossem prédios, seria,
realmente, horroroso...,
Chegaram os colonizadores
e horrorizaram meu Brasil...
Hoje, olhando os prédios, pensamos:
— Fossem árvores, seria,
realmente, maravilhoso...


***


Ainda me lembro bem
de quando subi as escadarias
do metrô, sem muita pressa
E vi, e me encantei além
do que jamais imaginaria,
Vi bailar, numa festa,
Voadora e bem preta,
Uma pequena borboleta...


***


O agricultor estava parado,
Olhando o Céu, calmo...
Aguardava uma chuva às plantas...

O viajante, do outro lado,
Vendo o horizonte, medindo em palmos
a sua chegada. Andara distâncias tantas...
Queria guardar o Sol ao final da viagem..

O agricultor já se cansara da aragem,
Há tanto tempo sem flor no sorriso...
O viajante... esse só viajava...
Um olho na estrada, outro no paraíso...

***

O plantador procura a chuva,
O viajante torce pelo Sol...Arco-íris.


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conheci o renato na escola onde trabalho. eu professora do segundo e terceiro ciclos de português e literatura, ele estudante do ensino médio. este menino tem apenas 16 anos e realmente me impressiona o seu potencial poético.
por ele ser um pouco resistente à poesia contemporânea, seus poemas me lembraram o heterônimo de fernando pessoa, ricardo reis. pensei também em manuel bandeira, cecília meireles, mário chamie, oswald de andrade, antônio cícero quando lia seus poemas.
sobre essa sua estética poética, achei interessante a preocupação que tem com a métrica e a rima bem construídas racionalmente em alguns de seus poemas que aqui não editei, onde mescla noções de forma e conteúdo através de uma destreza linguística, objetividade e racionalidade poética, emoção e intuição sensitiva.
gostei em especial desses três poemas que considero de uma beleza imagética surpreendente, de uma graça e singeleza na linguagem que poderia se fazer entender como inocência, se não fosse o delicado toque ácido de crítica socio-política dulcificado por sua ideologia subversiva que só passa despercebida aos olhares menos atentos. os outros tantos poemas que li também são lindos. talvez em uma outra oportunidade eu edito aqui seus sonetos dentre outras formas poéticas que ele experiencia.

boa leitura!
boa poesia!
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Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei a crítica sutil desse adolescente mais maduro que muitos adultos.
Como já me veio em mente, olhando os prédios de nossas cidades, se fossem árvores como seriam maravilhosas ou pelo menos maravilhoso seria viver nessa cidade.
Parabéns Renato, tanto as árvores em prédios como a borboleta posta na concreta estação de metrô. Sutil, apimentando, intuitivo e sensível.

valeu Pat, por trazer esses poemas para o seu blog e assim para o meu dia.
Adoro poesia!
beijim
maga