19.7.08

cata vento


(para luciana gonçalves)

mi amor es como el viento
a veces cerca, otras lejos
a veces tormenta, lluvia y truenos
a veces brisa, tíbio suave viento
va del mar a la tierra
vuelta de la tierra al mar
olas de aire en movimiento


17.7.08

SALOMÉ e a magia do ventre


Entre os autores que se arriscaram a penetrar no universo mítico da figura de Salomé, cito: Mallarmé, com o poema Herodíade — autor que demorou toda a sua vida em busca do desejo de torná-lo poeticamente perfeito; Flaubert, com o poema Salambô; Gabriel Mourey (crítico de arte), contribuiu com um estudo sobre a transcendência de Salomé na arte desde a antiguidade; Mário de Sá-Carneiro, Théodore de Banville, William Wilde, Pierre Louÿs criaram sonetos entre outras formas poéticas; Gustave Moreau produziu uma série de quadros sobre a história dessa virgem fatal; quadros que inspiraram Oscar Wilde quando escreveu a peça de teatro Salomé, de apenas um ato, que o autor nunca viu encenada; esta por sua vez inspirou o compositor Richard Strauss, resultando em uma ópera que levou o mesmo nome da peça estreada em 1905, famosa pela cena da Dança dos sete véus.

Chamada de “Musa da Decadência” a dançarina Salomé atravessa os séculos como o ícone absoluto da Mulher Fatal. Não é difícil visualizá-la como uma moça linda, suntuosamente vestida, uma odalisca, adornada com jóias, de rosto juvenil que beira o limite da inocência e da sensualidade, dançando de forma lasciva com a cabeça de Iokanan decepada em uma bandeja de prata (João Batista, o último dos profetas judeus). Seria ela, então, a síntese do feminino perigoso, o mistério, o lado obscuro do ser humano, a condensação de todas as mulheres cruéis da história, o poder ctônico que vem das profundezas da Mãe Terra, aquela que dá a vida aos seres vivos, mas também a que provoca as mais terríveis destruições.

Na Bíblia, seu nome não é mencionado (Marcos VI, 14-29 e Mateus XIV 1-13), é apresentada apenas como "Princesa da Judéia, filha de Herodíade". Seu nome — que por ironia do destino significa "A Pacífica" — chega ao nosso conhecimento por intermédio de Flávio Josefo, historiador judeu, nascido por volta de 37 d.C., autor que deixou vários livros apócrifos.

O breve relato bíblico conta que Salomé comete o crime para atender a um pedido de sua mãe, rainha da Judéia, que nas palavras absolutas do poeta-profeta era mulher promíscua, leviana, idólatra e incestuosa. A versão trans-criativa da Idade Média, recuperada parcialmente por Oscar Wilde, conta sobre uma desoladora paixão da princesa por Iokanan (João Batista em hebraico). A princesa ao ser rejeitada por ele, dança para Herodes, seu tio/padrasto, provoca o desejo incestuoso do rei e pede a cabeça de Iokanan como recompensa de seu desafeto.

Na atualidade fica a dúvida e Salomé continua bailando com seu rebolado ondulante e sensual na imaginação de homens e mulheres de nossa época.