30.5.10

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baby, you're driving me crazy
i said baby, you're driving me crazy
the way you turn me on
then you shot me down
well, tell me baby
am I just your clown?

(the sonics :: mood of the day)

29.5.10

Contos e lendas da mitologia grega :: de Claude Pouzadoux

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Aprendendo com os mitos

(Dicas de como trabalhar a mitologia grega na escola)

Estudar a mitologia grega nos leva a construir uma noção da trajetória do pensamento e da arte ocidental frente aos mistérios da natureza. Por outro lado, nos leva também a entender os dilemas e contradições que povoam o lado obscuro do homem contemporâneo a partir de traços de caráter e sentimentos dos antigos deuses, características essas que são encontradas também nas pessoas comuns independente da época em que vivem. Por essas e outras razões, nas minhas aulas de literatura, com adolescentes de 12 anos, escolhi a leitura da obra Contos e Lendas da Mitologia Grega, do autor Claude Pouzadoux – ed. Companhia das Letras.

O livro aborda os mitos dos deuses do Olimpo e conta, também, as fantásticas histórias de Jasão, Medéia e os Argonautas; os 12 Trabalhos de Hércules; a luta de Perseu contra a Medusa; a vitória de Teseu sobre o Minotauro; e o trágico destino de Édipo. A partir desses textos, fizemos reflexões sobre: Por que o homem cria seus deuses e heróis? Qual a relação que podemos fazer entre mito e história? Como esses mitos prevalecem vivos até os dias de hoje? Além de alimentar a imaginação e o universo criativo dos alunos do 1º ano do 3º ciclo da Escola da Serra.

Para garantir aprendizagens significativas, fizemos leituras coletivas em sala – paralelas a leituras individuais em casa – a fim de superar os desafios da linguagem erudita e desvendar os variados significados que envolvem mito e vida real. Ampliar esse potencial de significados ajuda os nossos alunos a entender melhor o mundo onde vivem e esse é o principal objetivo do estudo da literatura.

A mitologia grega está viva por toda parte no mundo ocidental: na literatura, no cinema, na música, na dança, no teatro, na filosofia, na psicanálise e até na língua que usamos diariamente. Os alunos se divertiram ao descobrir que o termo “Complexo de Édipo” é um conceito psicanalítico criado por Freud para entender a psique humana e que a palavra “cronômetro” e suas variantes vêm do nome do deus do tempo, o terrível Cronos. Outras descobertas interessantes continuam ao longo do trabalho.

O reconto ajudou os alunos a se apropriarem dessas histórias levando todos a reconhecerem esses personagens em situações vividas no dia-a-dia. Essa prática de produção oral e escrita, coletiva e individual, realizada por eles, reconfigura as histórias dentro de uma linguagem jovial e informal, própria de suas idades. Acabou por facilitar, também, o processo do trabalho de apresentações criativas onde a literatura estabelece um diálogo interessante entre artes plásticas e teatro. Além da palavra, muitas são as linguagens usadas na apresentação dos trabalhos (teatro de fantoches e de objetos, criação de histórias em quadrinhos, técnicas de colagem, modelagem com massinha e biscuits, etc.) e o desafio passa a ser com que cada grupo conte, à sua moda divertida e criativa, uma história do livro da qual ficou responsável para o restante da turma.

Neste trabalho não só passamos a conhecer o universo mitológico dos gregos como o principal ramo da origem do pensamento e da arte ocidental, mas nos divertimos muito com as artimanhas que Zeus usava para namorar as belas mulheres mortais, desvendamos e nos indignamos com os enigmas de Édipo, nos admiramos com as façanhas dos heróis trágicos, entre outros sorrisos e suspiros. O projeto continua no segundo semestre com as lendas indígenas brasileiras e os mitos africanos. O nosso próximo desafio é entender como a cultura brasileira está formada a fim de valorizar a nossa maior riqueza: nossa mestiçagem étnica e cultural.

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bibliografia:
Pouzadoux, Claude. Contos e lendas da mitologia grega. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.


27.5.10

outro poema :: de Jacobo Fijman


Jacobo Fijman
tradução livre :: patrícia mc quade

Luador, quatro luas
luaram os céus
que valem aos trigos e cevadas,
uma lua de terra secará as maçãs
fechando-se nos olhos mais belos da morte
e você luante pelas luas luado
entre coisas e coisas
ainda o ser do verbo, e as luas, e o mar,
ainda o ser luado,
e os olhos abertos que sagram a morte.

***

Lunador, cuatro lunas
han lunado los cielos
que valen a los trigos y cebadas,
una luna de tierra secará las manzanas
cerrándose en los ojos más bellos de la muerte.
Y tú lunante por las lunas lunado
entre cosas y cosas,
aún el ser del verbo, y las lunas, y el mar,
aún el ser lunado,
y los ojos abiertos que sacran la muerte.


***

aqui em beagá a lua cheia está linda!


19.5.10

debaixo d'agua :: arnaldo antunes

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Debaixo dágua tudo era mais bonito
mais azul mais colorido
só faltava respirar

Mas tinha que respirar

Debaixo dágua se formando como um feto
sereno confortável amado completo
sem chão sem teto sem contato com o ar

Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia

Debaixo dágua por enquanto sem sorriso e sem pranto
sem lamento e sem saber o quanto
esse momento poderia durar

Mas tinha que respirar

Debaixo dágua ficaria para sempre ficaria contente
longe de toda gente para sempre
no fundo do mar

Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia

Debaixo dágua protegido salvo fora de perigo
aliviado sem perdão e sem pecado
sem fome sem frio sem medo sem vontade de voltar

Mas tinha que respirar

Debaixo dágua tudo era mais bonito
mais azul mais colorido
só faltava respirar

Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia

(Arnaldo Antunes)

8.5.10

barco ligeiro de carinho



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Por que se foi barquinho
Nas águas ligeiras do destino
Volte para o seu porto
Antes que o coração se cale
E com gosto a fatalidade
Coma-o pedaço por pedacinho
Saboreando-o bem devagarzinho

Volte depressa barquinho

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2.5.10

Testemunhas

eduardo galeano(traduçãopatrícia mc quade)* livre ::
eduardo galeano
(tradução livre :: patrícia mc quade)

O professor e um jornalista passeiam pelo jardim.

Nisso, Jean-Marie Pelt, o professor, se detém, assinala com o dedo e diz:

— Apresento-lhe nossas avós.

E o jornalista, Jacques Girardon, se agacha y descobre uma bolinha de espuma que surge entre as pastagens.

É um povoado de microscópicas algas azuis. Nos dias de muita umidade, as algas se deixam ver. Assim, todas juntas, parecem uma cuspida. O jornalista franze o nariz: a origem da vida não tem um aspecto muito atrativo convenhamos, mas dessa baba, dessa porcaria, viemos todos os que têm pernas, patas, raízes, antenas ou asas.

Antes de antes, nos tempos da infância do mundo, quando não havia cores nem sons, elas, as algas azuis, já existiam. Produzindo oxigênio, deram cor ao mar e ao céu. E num bom dia, um dia que durou milhões de anos, as muitas algas azuis se transformaram em algas verdes. E as algas verdes foram gerando, muito pouquinho a pouco, liquens, fungos, musgos, medusas e todas as cores y sons que depois vieram, viemos, causar alvoroço no mar e na terra.

Mas outras algas azuis preferiram continuar sendo como eram.

Assim seguem estando.

Desde o remoto mundo que foi, elas olham o mundo que é.

Não se sabe o que pensam.



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bibliografia: GALEANO, Eduardo. Bocas del tiempo. Buenos Aires : Catálogos, 2004, p. 03.

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(foto de Gabriela Carrión :: retirado do blog pez es pájaro)

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