28.2.10

ele

para meu léu*

"conheço do amor o pouco que me ensinaram
os olhos que me amaram".
Fédon

um mar revolto
um terremoto no leito
uma agonia mórbida
um estado anestésico de embriaguez
um folhear fosforescente
uma ostra que guarda a palidez da pérola
um aliento afrodisíaco
carnaval em corpus christi
fatal crepúsculo da alvorada
seda de palavras que dá sede de mergulho
som de violino se rindo
estrela desgrelhada
como um deus e seu falo forte
um cacto árido que se dá em flor
um louva-a-deus convalescente
uma ruga no pensamento
que gota a gota se desprende dos olhos
que gota a gota se esgota na boca
um gosto ácido
um gozo acre
todo spoke que pipoca garganta
colapso de intrigas
uma formosura, espécie extinta
um composto de édem
uma libido dos infernos
asfalto de sedimentos precipitados
solução de sentimentos insolúveis
de espasmos líricos e dramáticos
narciso diante do espelho
o reflexo de si e de um outro
uma presença na ausência
um devir inexistente
despótica matéria de paraíso e carne
emaranhado nos cabelos de Ophelia

um exu ao tucupi
baco que dança no tacacá

repique atabaque de iansã



*

27.2.10

cogito, ergo sum

*
sou, eu sei: um ser pensante!
então não me venha suprimir
com seus neuróticos sentidos.

e esse ser ou não ser
já deixou de ser
a epanafórica questão.


***

25.2.10

adivina :: si quieres que te lo diga, espera...

*

Lo miras sobre la mesa.
A veces es cuadrado, a veces redondo.
Puede ser blanquito como la nieve, negro como la noche o colorido.
De cualquier tipo hace reír a todos.
A veces puede traer golosinas rojas o frutillas sabrosas.
En situaciones especiales está acompañado de un tipo larguito y delgado, de nariz encendida que tiembla al toque del viento y se apaga con un soplo.
En estas horas es lo más esperado, pero sólo le comes uno de sus pedazos al final y al cabo de todo el suceso.
Y siempre quieres más.


***

18.2.10

Berimbau :: Canto de Ossanha

*
na tela: vinícius de moraes, toquinho, tom jobin e miúcha.
musicas de vinícius de moraes e baden powell.



(show antológico gravado em 18 de outubro de 1978 em Milão, na Itália)

***

músicas que contam sobre o estado de espírito em que me encontro.
não nego nada, nem o amor nem a dor de doer um amor.
e que venham outros pela vida afora, quero mais é intensidade nos amores profundos ou vis, sem preconceitos ou restrições.

não Ossanha, para isso eu não quero cura.
prefiro morrer de amor do que morrer
sem ter amado pelo menos muitas vezes na vida.

***

uma homenagem a Cleber Cabral,
meu amigo que morre de amor mas decidiu continuar vivendo.

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Ossanha é o Orixá das plantas medicinais e litúrgicas.
É fundamental sua importância, porque detém o poder medicinal das plantas e folhas, imprescindíveis nos rituais de todos os Orixás.
a saudação de Ossanha é: "Eueu!"
(ossanha :: foto de frederico mendes)

17.2.10

Anna Kariênina :: de Liev Tolstói

*

O romance Anna Kariênina (1873-1877), de Liev Tolstói, tem um dos começos mais conhecidos da história da literatura e introduz o leitor em um dos dramas trágicos mais surpreendentes de todos os tempos:


"Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz, é infeliz à sua maneira.”

A narrativa central é a história de uma belíssima mulher da nobreza russa de São Petersburgo. Anna é casada e mãe de um filho, mas, numa viagem a Moscou, acaba se apaixonando por um oficial militar de família nobre e rica chamado Vrónski. Ela tenta o divórcio, mas o marido, homem político e influente do governo czarista, não aceita. Grávida de Vrónski, ela dá à luz a uma menina e decide abandonar o marido e o filho. Sai em viagem pela Europa com o amante. Na Itália, vive momentos felizes com sua nova família, mas quando volta, precisa enfrentar os obstáculos sociais marcados por sua nova condição de mulher divorciada. É massacrada por uma moralidade hipócrita e vive agora os tórridos momentos de paixão que, aos poucos, se esvai em emoções agudas (crises de ciúmes e suspeitas de traição) até culminar em um trágico final para a heroína.

O que move o romance é o amor sem o sentimentalismo que visa um ideal romântico. Antes, ele é considerado um sentimento natural e incontrolável, que é vencido pela violência das leis morais que preza os “bons” costumes, tudo para manter as máscaras sociais que escondem a essência do Ser de cada personagem e seus desejos mais viscerais.

Contextualizado na esplêndida sociedade pré-revolucionária de São Petersburgo e Moscou, Tolstói faz um exame social e político da Rússia, num tempo em que as ideias comunistas tomavam força e ocupavam o cerne das discussões intelectuais e filosóficas da época. Isso tudo sem tirar o foco na realização de um exame crítico da nobreza russa, decadente e hipócrita, que não conseguia mais enxergar além da superficialidade das aparências, e que minava aos poucos as próprias estruturas de seu poder no Estado.

As personagens, repletas de marcas autobiográficas, são construídas a partir de pessoas reais e os episódios recopilam cenas da vida de Tolstói. Um exemplo é o pedido de casamento que Liévin, alter ego de Tolstói, faz a Kitty, personagem inspirada em sua esposa. Liévin pode ser interpretado literalmente como o “outro eu” de Tolstói, como se fosse uma outra personalidade de si mesmo, uma identidade secreta que Tolstói de alguma forma sentia a necessidade de construir, talvez como uma maneira de alcançar o auto-conhecimento. Liévin é como se fosse a expressão máxima de sua personalidade, ainda que de forma não declarada pelo autor. Para isto, basta observar a semelhança dos nomes: Liévin (persongem) X Liev (autor), sem contar com a semelhança nos fatos vividos pela personagem e os narrados em sua biografia.

O fascínio deste livro é tudo isso e muito mais. Para quem gosta de ler volumosos romances – a edição da Cosac Naify gira em torno de 800 páginas – indico a leitura desta obra comovente e precisamente política e filosófica. É instigante ler um autor que observava a evolução do pensamento socialista na Rússia em fins do séc. XIX, anterior à revolução russa, num tempo presente de início do séc. XXI, considerando nosso contexto histórico marcado pela queda do muro de Berlim, a decadência do regime socialista e o domínio quase que global de um capitalismo selvagem. Ler o passado pode ser uma boa forma de aprofundar nossa leitura sobre o presente, para alcançar mais criticidade e consciência do mundo em que vivemos.


(Greta Garbo como Anna Kariênina :: filme de Clarence Brown :: 1935)

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bibliografia:
TOLSTÓI, Liev. Anna Kariênina. São Paulo: Cosac Naify, 2005.

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16.2.10

bem-vind@ à belo horizonte :: aqui todo espaço vira prédio!!!



cidade verticalizada (!)
para avistar o horizonte, só mesmo voando de asa delta.

a claustrofobia ocupa espaços.
para se proteger, tire os pés do asfalto quente

' e voe '


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