26.4.10

...

*
como minha cabeleira
ando descabelada
de pensamentos e nuvens

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10.4.10

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Para aqueles que amam, o tempo não existe
porque os amantes arrancaram o seu próprio coração para oferecê-lo àqueles a quem amam.
Por isso são insensíveis aos milhares de homens e de mulheres que não são o seu amor,
e é por isso que eles choram e se desesperam com segurança.
E é sob o atraso desses relógios sangrentos que aqueles que são amados vêem aproximar-se a velhice e a morte.
Para aqueles que sofrem, o tempo não existe.
Ele se anula à força de precipitar-se: cada hora de um suplício.
O tempo é uma tempestade de século.


fala do personagem Fédon :: Livro Fogos :: de Marguerite Yourcenar


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5.4.10

um poema :: de Jacobo Fijman

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Jacobo Fijman
tradução livre :: patrícia mc quade


Sobre minhas mãos agudas
descendem as chamas das visões
Sóis e sóis.
Correm os sóis sóis e sóis.
Águas e águas correm as águas sobre a luz, sobre as águas multiplicadas.
Minha boca grande de oração derrama vôos.

Amo teu nome com amor pavoroso.
Com pavor amoroso meu caminho se alegra e regozija com teu nome.

Ouça em minha solidão; veja em meu pranto
Minha sede crê em meu pranto; tua solidão chega ao meu pranto.

Entrou a noite em nosso pranto.


***


Sobre mis manos agudas
descienden las llamas de las visiones.
Soles y soles.
Corren los soles soles y soles.
Aguas y aguas corren las aguas sobre la luz, sobre las aguas multiplicadas.
Mi boca grande de oración derrama vuelos.

Amo tu nombre con amor pavoroso.
Con pavor amoroso mi camino se alegra y regocija con tu nombre.

Oye en mi soledad; mira en mi llanto.
Mi sed cree en mi llanto; tu soledad llega a mi llanto.

Ha entrado la noche en nuestro llanto.

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conhecimento em processo!


3.4.10

no tempo de Magdala

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(embalos de uma sexta-feira santa)

O tempo passou a ser contado adiante e o coração de deus já não é mais que pedra lascada.

Foi quando o filho do homem, codificado no mistério dos deuses, impediu que outros homens atirassem seus corações pontiagudos em Maria de Magdala.

"Vai e não peques mais."

Ouviu Madalena, como ficou outrora conhecida, e deixou-se ser salva liberando para o mundo 7 dos 13 demônios de Lilith.

Isso aconteceu no anteontem da história. Marco fundador: um tempo que corria de trás pra frente e passou a seguir só e adiante.

Juntos os 13 demônios hoje seguem vadiando no mundo dos humanos, brincando nas madrugadas entre os cabelos das Marias noturnas e o gozar dos suspiros diurnos de Josés.

Os demônios vivem enquanto durar a sedução no embaraço das madeixas lascivas e a presunção do canto forte dos falos.

Uma vez ao ano esses demônios resignam seus afazeres, e em vários pontos da Terra vagueia a mais morna monotonia e o sono dos desapetecidos se alheia ao desejo da carne rubra de Maria de Magdala por Jesus de Nazané na sexta-feira santa.

E a ocasião se repete:
Madalena lava com lágrimas os pés de seu Amor
e enxuga-os com seus cabelos enternecidos.

— Sabe ela da Paixão de Cristo? —

Mas nos dias que não são santos, esses demônios vivem seus dias de euforia e a roda do tempo passa a girar mais preguiçosa, para que uma noite dê aos possuídos a sensação da eternidade.

E as estrelas estremecem
com o rufar dos lençóis em bis ritmado
que ecoa nos quatro cantos da Terra:

madeixa com madeixa
falo com falo
madeixa com falo.


Não há mais humanos nem deuses a serem salvos.

***