26.12.13

Hèlené Cixous

Solte-se! Solte tudo! Perca tudo! Tome ar. Faça-se mar adentro. Faça-se da letra. Escute: nada foi achado. Nada se perdeu. Tudo está para ser encontrado. Ande, voe, nade, salte, corra, cruze, ame o desconhecido, ame o incerto, ame o que ainda não foi visto, ame a ninguém, o que você é, o que será, deixe-se, liberte-se das velhas mentiras, atreva-se ao que nunca se atreveu antes, aí é onde você gozará, faça sempre seu aqui de um ali, e alegre-se, alegre-se do terror, siga-o por onde você tenha medo de ir, atire-se, é por ai! Escute: você não deve nada ao passado, não deve nada à lei. Ganhe sua liberdade: devolva tudo, vomite tudo, doe tudo. Doe absolutamente tudo, ouça-me, tudo, doe seus bens, certo? Não guarde nada para você, aquilo que lhe importa, doe, entendeu? Encontre-se, encontre o eu, revolto, numeroso, o que você será está sempre mais adiante, e fora de um sim, saia, saia do velho corpo, liberte-se da Lei. Deixe-a cair com todo seu peso, e você, corra, não olhe para trás: não vale a pena, atrás de você não há nada, tudo está por vir.

(Hèlené Cixous- A chegada da escritura)

tradução livre: patrícia mc quade