30.8.09

tequila

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meu dia mais feliz da vida
foi aquele que eu esqueci.

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23.8.09

Índice de mortalidade infantil

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eduardo galeano
(tradução livre :: patrícia mc quade)

Quando Manuel tinha um ano e meio, quis saber por que não conseguia agarrar a água com a mão. Aos cinco anos, quis saber por que as pessoas morrem.

— E morrer, o que é?

— Minha avó morreu porque estava velhinha? E por que morre um neném mais novo que eu, um que eu vi ontem na tv?

— Os doentes morrem? E por que morrem os que não estão doentes?

— Os mortos morrem por um instante ou morrem de vez?

Pelo menos, Manuel tinha resposta para uma pergunta que mais o mortificava:

— Meu irmão Felipe não vai morrer nunca, porque ele sempre quer brincar.

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bibliografia: GALEANO, Eduardo. Bocas del tiempo. Buenos Aires : Catálogos, 2004, p. 49.


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20.8.09

él

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es tuyo
más que mío
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agárralo
apréndelo
trágalo
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él
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es tuyo
más que mío
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te toca a ti
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11.8.09

blog :: AQUECIMENTO GLOBAL

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trabalho em uma escola que tem um perfil pedagógico diferenciado. lá os alunos são incentivados a construírem seu próprio conhecimento. nós, professores, não levamos nada pronto para sala de aula. nada de decoreba ou empurrar informações goela abaixo nos alunos. planejamos nossas aulas à base de projetos e atividades variadas que contemplem várias habilidades cognitivas, físicas, psicossociais e emocionais . o estimulo à leitura, pesquisa, jogos e trabalhos em grupo ajudam a fortalecer o respeito uns pelos outros e a capacidade dos alunos de escutar o colega. além disso desenvolve a oralidade e a escrita, competências importantes para que os alunos se expressem com desenvoltura, ética, criatividade e coerência sobre os variados assuntos discutidos em sala de aula. o senso crítico, a autonomia e a capacidade de assumir suas próprias responsabilidades também são nossas metas. e isso tudo contribui para ajudar esses estudantes a se tornarem auto-didatas, pessoas que independem do espaço escolar para a formalização de seus conhecimentos.

há um projeto em especial que reúne todas essas competências acima citadas. chama-se "projeto de livre escolha".

nele os alunos escolhem um assunto de seu interesse, algo que desperte a curiosidade deles em conhecer mais sobre algum tema específico — é imprescindível que esse tema tenha base científica. em seguida, eles definem se querem realizar o trabalho de pesquisa sozinhos ou em pequenos grupos. a partir disso, montam sob a orientação do professor responsável um projeto de pesquisa e investigam toda a bibliografia disponível na biblioteca da escola. neste processo é muito importante o acompanhamento da família, pois os parentes sempre ajudam muito para o enriquecimento da pesquisa oferecendo outros materiais e fontes de consulta. o trabalho escrito deve obedecer a alguns critérios de formalidade exigidos pelo professor: capa com título da pesquisa e nome dos pesquisadores, conteúdo bem desenvolvido e que atenda aos objetivos do projeto inicial, ilustração, conclusão que deve ser escrita com as próprias palavras dos alunos sobre o que aprenderam e fonte bibliográfica. depois disso, os pesquisadores pensam em organizar a apresentação de seu trabalho aos outros colegas de sala: cartazes, data show, exposição de objetos, experiências científicas, performances, videos, etc. são alguns dos recursos usados nesta hora.

o que eu posso falar é que o resultado sempre me surprende muito.

em especial, este ano, uma dupla de pequenas pesquisadoras de 09 e 10 anos, alunas minhas, tiveram a iniciativa de construirem um blog para expor a pesquisa do "projeto de livre escolha" que fizeram. foi uma surpresa quando cheguei em casa hoje e vi uma mensagem de uma delas me anunciando sobre o blog. o tema que elas investigaram foi "o aquecimento global". fizeram uma pesquisa profunda sobre esse assunto que está ultimamente sendo uma das grandes preocupações no mundo todo. essas duas pequetitas engajadas falam sobre o efeito estufa, o protocolo de kioto, o desequilíbrio do clima no planeta e as consequências que todos os seres vivos irão sofrer se algo não for feito pelo ser humano para corrigir esse grave problema que causamos.

é isso, o assunto do meio ambiente é tão sério que virou preocupação de criança!
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visitem o espaço delas,

essas duas gatinhas merecem muitos parabéns pela iniciativa e todo o encorajamento para que continuem esse trabalho bonito de encher os olhos e movimentar pensamentos.

é só por causa dessas surpresas que eu consigo continuar a acreditar na humanidade.

Luana e Hannah, vocês duas são incríveis!
um bj carinhoso da paty (é como os meus pequenos da escola da serra me chamam :)

8.8.09

ato ou efeito de dissertar :: cuidado! ferramentas de pesquisa na pista



o espaço do blog está sendo temporariamente destinado ao exame de um princípio ou idéia, fato e percepção, com a finalidade de produzir uma apreciação lógica, ilógica, analógica, epistemológica, estética, a-moral e subversiva dos parâmetros acadêmicos sobre a obra Os sertões do teatro Oficina Uzyna Uzona de Corpos, uma leitura-concepção, como costumo chamar, do livro clássico da literatura moderna brasileira de Euclides da Cunha.

agradeço desde já a compreensão de todos os eventuais leitores que por aqui passeiam os olhos e os convido a conhecer um pouco do material em videos que aqui organizo. o objetivo para as postagens de tantos vídeos seria o de facilitar as minhas consultas para a realização da escrita de uma dissertação que incluirá uma análise das possíveis teorias teatrais que dialogam com o grupo e a peça em especial, uma análise do espetáculo que beira o caos mental da impossibilidade, entre outros aspectos e circunstâncias subjacentes que envolvem este épico brasileiro montado pelo grupo Oficina ao longo de 6 anos e que tem, nada mais nada menos, 26 horas de duração, divididas em 5 apresentações: A Terra, O Homem I, O Homem II, A Luta I e A Luta II.
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abstenho de prerrogativas de qualquer sigilo sobre o qual pousa meu tempo, minha falta de juízo e intelecto, todos fu(n)didos nos últimos 3 anos e abro o campo para perguntas sensatas e insensatas, inclusive sugestões ou palpites aleatórios sobre fontes de pesquisa como sites, bibliografia, outros vídeos, entrevistas, etc., entre outros comentários efetuosos de encorajamento (ultimamente ando muito carente. acho que é efeito da solidão que os estudos nos fins de semana, madrugadas, férias e feriados, me dão como consolo, além das olheiras, claro! e que consolo! :-)
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conto com o desvario de todos
cordialmente,
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eu, suja de piche

Zé Celso e Marcelo Drummond em Nova Iorque :: abril/ 2009

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Entrevista mediada por Gerald Thomas, no Theaterlab em Nova Iorque, com a presença de Judith Malina, membro fundadora do lendário grupo teatral Living Theatre.









vídeos gravados por Marcelo Drummond após exibição do dvd de As Bacantes, peça de Eurípides com adaptação e direção de José Celso Martinez Corrêa.

6.8.09

HIC JACET

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leo gonçalves e patrícia mc quade

do céu nos olha
o olho vazio do universo
pousado inerte sobre tudo
nada de amor, nada de ira, nada de culpa
pairando sobre o que se move
a partir de agora o destino
é nossa exclusiva responsabilidade
ninguém mais em quem por a culpa
pelo que fizemos
a sorte que nos chega de presente
é mera matemática, verso do acaso
agradecer a quem?
as bênçãos estão suspensas
entre o dito e o suspiro
há um largo sorriso de bufão no céu azul pra anunciar

mortos os deuses
mortos

e esse ceticismo amargo que engolimos
depois de adoçada a língua no sonho do conhecimento?
quede os deuses que criamos a nossa imagem e semelhança?
onde ressoa o verbo feito carne?
ouço-o no silêncio do vácuo objetivo
para o qual migrou a humanidade
comandada pela voz de urizen

já não há mais os escolhidos
por fim somos todos iguais em
desgraça consumismo e mau agouro
fechada para sempre a tenda dos milagres
milagres desfeitos pela química, pela física, pela geometria,
tudo cuidadosamente calculado e
explicável nas ciências naturais
poeira sobre milhares de livros sagrados
nos porões da cidade de bharatpur
esgotada a venda de imóveis no reino dos céus
hipotecas, aluguéis paradisíacos a preços exorbitantes
bolsa do inferno em crise,
aumento vertiginoso na oferta de almas
na banca do diabo super-promoção leve 3 pague 1

as lágrimas do rosário lágrimas agora são
incontáveis pedras rolando montanha abaixo
em nossas cabeças
pedras-cartas
ásperas e pesadas

os deuses morreram

os ritos budistas não acendem mais os seus incensos
não buscam na meditação
uma comunicação com as forças interiores
não há corvos sobre os tetos dos recém-nascidos
os deuses morreram e não habitam mais em nós

as fogueiras xamãs crepitam para manifestar o luto
as cinzas sobem aos céus e impedem
os raios do sol sobre a Terra
em instantes elas se apagarão e não mais serão acesas
na dança do tutuguri
os ancestrais se foram para nunca mais voltar
pois os deuses que nos foram dados por herança
agora estão mortos

os orixás já não giram mais as saias nos terreiros,
calaram-se os tambores
rumpis e lés não curam já não lançam pestes
sob os dedos do ogã
ebós perderam cores e cheiros
equédis de branco luto
manchas de dendê sobre o tecido branco

só há deuses na balança do açougue
deus é fiel:
a carne mais barata

e não ressuscitaram no terceiro dia



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:: poema em parceria com leo gonçalves 19/07/2009 ::
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“o que os sonhos são?
talvez uma teimosia vertiginosa de realizar
o que na realidade não nos é permitido sequer sonhar.”
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(patrícia mc quade)
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5.8.09

e quem não quer?

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essa mulher :: de arnaldo antunes

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vi esse vídeo no blog da sol, minha amiga iluminada, estrela maior de brilho próprio, intenso e incandescente. companheira de risos e lágrimas. duas piscinas juntas só pode dar em muita emoção mesmo. : j
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se quiserem visitar o espaço da sol, acessem:
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color i dora

Os raios de sol são todos iguais.

Mas alguns fabricam arco-íris.

(amora sol *)

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4.8.09

amor e seu tempo

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carlos drummond de andrade

Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.

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