13.1.12

Penduricalho


quando si e mi lá tocam
si dó ré mi
sustenido dó da nota de lá
dó ré mi fá
escala menor vento e acorde
fá sol lá si
sussurra bemol mi si lá sol
sol lá si dó
lá adágio verso que dó.

canta-si lá rima de si para mi
re mi fá fá ré
quando si o mi lá toca
dó ré mi fá sol
sustenido dó da nota de lá.

sonatina de mi
lá sol fá mi ré dó
sinfonia de si

si dó mi fá sol
eco, canto lá ré de dó
mi fá sol lá si

canta-si lá dó ré tum-tum:
coração acorde de si e mi.

3.1.12

Escola pública, 1976. Dona Elza não tinha ninguém, só um papagaio que lhe havia deixado uma cicatriz na testa, mas declarava seu amor ao homem. Talvez tenha sido por isso que um dia decidiu nos levar ao laboratório, reservado normalmente aos meninos mais velhos.
Fazia um sol branco sem calor.
A primeira revelação que ela nos faria – como parecia feliz! – era
algo que apenas as crianças realmente inteligentes veriam como
extraordinário. Os tolos, os ignorantes, teriam medo – e que medo mais
sem cabimento! E fez-se uma expectativa, uma espera, como se ela
aguardasse que decidíssemos: e então, tolos ou sábios? Depois, puxou o plástico
negro que cobria um esqueleto. Riso nervoso dos garotos, estupefação
forçada dos mais cínicos, gritinhos das meninas.
- Calma, calma, ela pedia, forçando um sorriso como se estivesse
sorrindo mas tentando se conter. E com um tom elevado:
– Isto, meus alunos, é o homem!
O homem. Ou a mulher, acrescentou. Não havia razão para riso nem medo
– era de plástico e mais: era a ciência. Ela compreendia algum
espanto, mas tinha certeza de que não a decepcionaríamos.
Amontoamo-nos em torno do esqueleto, suas órbitas abertas, seu riso
sem direção, seus ossos enormes ou mínimos, atados com arame.
- A mulher? – perguntou um menino de cabeça raspada.
- Claro que sim. Por dentro somos iguaizinhos. – e as meninas pareciam
envergonhadas de sua nudez, ou como que traídas.
Minha professora morreu oito anos depois.

:: um miniconto de carino schlemihl ::