3.3.14

um prosac com cachaça, moça?

**

"— por favor!
antes, um copo d'água para engolir umas pastilhas de clichê"

...

sentada na mesa do bar
dá de ombros pra ficar mais fácil escalar
os destroços de um predestino sem definição

repassa a lição de um sábio budista:
(são nos descaminhos que as frutas mais saborosas são comidas)

foi depois dessa descoberta que passou a-se-meter-
em-beco-sem-saída
e a entender tudo a partir do ponto-de-vista-da-fotografia

mistura na bebida um pouco de luxúria e preguiça pra esquecer
o incômodo do sapato furado colado com chiclete
e aquele calo nas cordas vocais

— há contra-gotas de alma na calma do vinho —
(receita médica guardada na bolsa)

um tempo fugaz a atropela a cem anos de solidão por hora
marcados no velocímetro

a ampulheta no meio da ladeira não pára pra prestar socorro
e no fim do amor alguém lhe pergunta:
o que é eterno?
ela atropelada por um lado se vira sem resposta
e segue a derramagem do tempo

espera a última gota d'areia cair na menina dos olhos

põe as cartas na mesa
e se choca com a manchete do dia:
"suicídio no jornal ninguém mais lê – esquece"

...


e ao encontrar-se na cartomancie o seu fastio, alguém grita:
"— mais uma bica de cachaça, garçom!
que essa moça tá precisando de mais precipício na veia
e espanto na hora da queda"

...

[instante congela]
uma paradinha por fim ao apreciar
a última gota d'areia em suspensão

!


[ instante descongela]

Ufa! de chapada não cai,

...


e dorme na mesa do bar o sono dos inocentes

**