28.12.10

Trapo

(fernando pessoa :: álvaro de campos)

O dia deu em chuvoso.
A manhã, contudo, esteve bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.

Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso.

Bem sei, a penumbra da chuva é elegante.
Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante.
Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante.
Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Dêem-me o céu azul e o sol visível.
Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.

Hoje quero só sossego.
Até amaria o lar, desde que o não tivesse.
Chego a ter sono de vontade de ter sossego.
Não exageremos!
Tenho efetivamente sono, sem explicação.
O dia deu em chuvoso.

Carinhos? Afetos? São memórias...
É preciso ser-se criança para os ter...
Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro!
O dia deu em chuvoso.

Boca bonita da filha do caseiro,
Polpa de fruta de um coração por comer...
Quando foi isso?
Não sei...
No azul da manhã...

O dia deu em chuvoso.

*

biografia: PESSOA, Fernando. Obra Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. pag. 381.

*

23.12.10

pé de página


antes do não seja o sim.
antes do pedido, o consentimento.
antes da palavra, o silêncio.
não dá para agradecer um agradecimento.

*

11.12.10

PSIA :: Arnaldo Antunes

— Por que a lua não se distancia da terra?
— Porque já é distante o bastante.

— Qual o olho que vê melhor?
— O do ciclope.

— Como vai?
— A pé.

— A civilização ocidental deve abrir os olhos para o Ocidente?
— Abrir os olhos.

— O que faz o céu?
— Voa.
— E a ave?
— Povoa.

— Deus existe?
— Eu também.

— Qual o ser mais puro?
— O mineral.

— Qual o ser mais puro?
— O que não fala.

— Por que o homem pensa?
— Por falta de disciplina.

— Os fatos que ninguém viu aconteceram?
— Ponho fé.

— Qual o ser mais puro?
— Bambi.

— Quando você vai voltar pra casa?
— Lá pelas onze.

— O que cabe na cabeça?
— A cabeça.

— Gosta de leite?
— Só com nescau.

— Como assim disciplina?
— Com dois esses.

— Você pertence a alguma religião?
— De uma outra região.

— Como tem passado?
— Parado.

— Por que suas respostas são sempre mais curtas que as minhas?
— Porque sim.

— O que acha da televisão?
— Deve ser vista sem o som.

— Qual o caminho?
— O certo.

— A cabeça cabe na cabeça?
— À beça.

— Quando surgiram?
— Há pouco.

— Qual o comprimento do corno do diabo?
— Só Deus sabe.

— Quando uma mulher te diz não?
— Quando ela tem razão.

— Qual o olho que vê melhor?
— O que não duvida.

— Por que o céu não cai sobre as nossas cabeças?
— Porque o druida existe.

— Quais foram as duas últimas palavras do mestre Hiang Ching antes de morrer?
— Ainda não.

— Mais alguma coisa?
— Sim.

***

bibliografia degustada: ANTUNES, Arnaldo. PSIA. São Paulo: Iluminuras, 2001.

***

9.12.10

derrelição :: segundo hilda hilst


“Derrelição. Não, não parece triste, talvez porque as duas primeiras sílabas lembrem derrota, e lição é sempre muito chato. Não, não é triste, é até bonita. Desamparo, Abandono, assim é que nos deixaste. Porco-Menino, menino-porco, tu alhures algures acolá lá longe no alto aliors, no fundo cavucando, inventando sofisticadas maquinarias de carne, gozando o teu lazer: que o homem tenha um cérebro sim, mas que nunca alcance, que sinta amor sim mas nunca fique pleno, que intua sim meu existir mas que jamais conheça a raiz do meu ínfimo gesto, que sinta paroxismo de ódio e de pavor a tal ponto que se consuma e assim me liberte, que aos poucos deseje nunca mais procriar e coma o cu dos outros, que rasteje faminto de todos os sentidos, que apodreça, homem, que apodreças, e decomposto, corpo vivo de vermes, depois urna de cinza, que os teus pares te esqueçam, que eu me esqueça e focinhe a eternidade à procura de uma melhor idéia, de uma nova desengonçada geometria, mais êxtase para a minha plenitude de matéria, licores e ostras...”


Hilda Hilst

8.12.10

O amor e seu tempo

carlos drummond de andrade

Amor é privilégio de maduros
Estendidos na mais estreita cama,
Que se torna a mais larga e mais relvosa,
Roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
O prêmio subterrâneo e coruscante,
Leitura de relâmpago cifrado,
Que, decifrado, nada mais existe

Valendo a pena e o preço do terrestre,
Salvo o minuto de ouro no relógio
Minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. amor começa tarde.

5.12.10

o direito de sonhar

de Eduardo Galeano
tradução livre de patricia mc quade


Ninguém sabe como será o mundo depois do ano 2000. Temos uma única certeza: se ainda estivermos aqui, já seremos pessoas do século passado y, pior ainda, seremos pessoas do milênio passado.

Entretanto, mesmo que não possamos adivinhar o mundo que será, podemos sim imaginar o que queremos que seja. O direito de sonhar não está estampado nos trinta direitos humanos que as Nações Unidas proclamaram em 1948. Mas se não fosse por ele, e pelas águas que dá de beber, os outros direitos morreriam de sede.

Deliremos, pois, por um momento. O mundo, que está de pernas para o ar, se firmará sobre seus pés.

• Nas ruas, os automóveis serão pisados por cachorros.

• Os cozinheiros não acreditarão que as lagostas adoram ser fervidas vivas.

• A polícia não será a maldição de quem não pode comprá-la.

• O ar estará limpo dos venenos das máquinas, e não haverá mais poluição do que aquela que emana dos medos humanos e das humanas paixões.

• Os historiadores não acreditarão que os países adoram ser invadidos. Os políticos não acreditarão que os pobres adoram comer promessas.

• A justiça e a liberdade, irmãs siamesas condenadas a viverem separadas, voltarão a se juntar, bem coladinhas, costa com costa.

• As pessoas não serão dirigidas pelo automóvel, nem serão programadas pelo computador, nem serão compradas pelo supermercado, nem serão assistidas pelo televisor.

• O mundo já não estará em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza, e a indústria militar não terá mais remédio do que declarar para sempre sua falência.

• Uma mulher, negra, será presidente do Brasil e outra mulher, negra, será presidente dos Estados Unidos da América.
Uma mulher índia governará Guatemala e outra, Peru.

• O televisor deixará de ser o membro mais importante da família, e será tratado como o ferro de passar ou a máquina de lavar roupas.

• Ninguém morrerá de fome, porque ninguém morrerá de indigestão.

• Na Argentina, as loucas da Praça de Maio serão um exemplo de saúde mental, porque elas se negaram a esquecer nos tempos de amnésia obrigatória.

• As pessoas trabalharão para viver, em lugar de viverem para trabalhar.

• Os meninos de rua não serão tratados como se fosse lixo, porque não haverá meninos de rua.

• A Santa Madre Igreja corrigirá algumas erratas das tábuas de Moisés:
O sexto mandamento ordenará: “Festejarás o corpo”.
O nono, que desconfia do desejo, irá declará-lo sagrado.

• Em nenhum país irão presos os rapazes que se neguem a fazer o serviço militar, senão aqueles que queiram fazê-lo.

• As crianças ricas não serão tratadas como se fosse dinheiro, porque não haverá crianças ricas.

• A igreja também ditará um décimo primeiro mandamento, que se esqueceu o Senhor: “Amarás a natureza, da qual fazes parte”.

• Os economistas não chamarão nível de vida ao nível de consumo, nem chamarão qualidade de vida à quantidade de coisas.

• A educação não será um privilégio de quem possa por ela pagar.

• Todos os penitentes serão celebrantes, e não haverá noite que não seja vivida como se fosse a última, nem dia que não seja vivido como se fosse o primeiro.

*
* *

texto traduzido do site: pro diversitas

*

já dez anos quase concluidos de século XXI se passaram e continuo inclinada ao meu direito legítimo de sonhar. sonho com a segunda década deste ainda novo século cheia de transformações na mentalidade das pessoas e na realidade de vida vivida, morta e ressuscitada com mais justiça e liberdade para todos.

*

28.11.10

José :: de Carlos Drummond de Andrade


E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, você?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama protesta,

e agora, José?


Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?


E agora, José?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio - e agora?


Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora?


Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse…

Mas você não morre,

você é duro, José!


Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José!

José, pra onde?

*

8.11.10

~


!para julieta sueldo boedo!


o aprendido é quando a vida nada
feito sêde que nada
feito fala que nada
feito falta que nada
feito dor que nada
...solução? que nada
então, esquece...
que nada, peixe, que nada

~

desvario a partir da filosofia popular:
"Para o que não tem solução, a sêde do peixe ensinou a dizer nada"

~

8.10.10

regalo

no esperaba yo por nadie ni por nada
pero él me esperaba en mi cama
era amarillo serio y cerrado
y cerrado se quedó hasta que yo notase su presencia
decía mi nombre deletreándolo con letras grandes
y cuatro paisajes repetidos de una mítica Tierra del Fuego
en sus ojos brillaban
y me esperaba...
con la calma que sólo el cielo espera el sol de la oscuridad
para de nuevo volver el sol de la claridad del día siguiente
porque siempre vuelve la claridad después de la oscuridad
y también al revés
pues uno se completa al otro
y de nuevo al revés
cuando mis ojos miraron los suyos
cuando a él
me lo abrí
y eso me lo dijo


*

!para gabriela carrión!

~

a Bela e o Dragão :: Mário Quintana

As coisas que não têm nome assustam, escravizam-nos, devoram-nos...
Se a bela faz de ti gato e sapato, chama-lhe, por exemplo, A BELA
DESDENHOSA. E ei-la rotulada, classificada, exorcizada, simples marionete
agora, com todos os gestos perfeitamente previsíveis, dentro do seu papel de
boneca de pau. E no dia em que chamares a um dragão de JOLI, o dragão
te seguirá por toda parte como um cachorrinho...

[Mario Quintana; Sapato Florido, 1948]

*

3.10.10

memória :: carlos drummond de andrade



Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

*

25.9.10

DVDs “Os Sertões”, :: Cia. Oficina Uzina Uzona


Lançamento dos filmes de Os Sertões

Direção Geral: Zé Celso Martinez Corrêa Codireção Geral: Camila Mota e Marcelo Drummond Produção: Lucas Weglinski e Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona
Patrocínio: Petrobras
Local: Cine Livraria Cultura – Sala 1 – Conjunto Nacional – Avenida Paulista, 2073. Metrô Consolação.
Ingresso: Os ingressos não serão vendidos. A sessão será para convidados e aberta ao público (que terá acesso a sala após a entrada dos convidados de cada sessão). A entrada estará sujeita a lotação da sala (300 pessoas).

A Terra (Direção de Tommy Pietra) Dia 27 de setembro, 19h (abertura para convidados) e 20h (estréia). DVD simples – Duração: 190 minutos.

O Homem I (Direção Fernando Coimbra) Dia 28 de setembro, 18h (estréia). DVD duplo, com dois atos – Duração: Ato 1/DVD 1 – 165 minutos; Ato 2/DVD 2 – 125 minutos. TOTAL: 290 minutos.

O Homem II (Direção Marcelo Drummond e Gabriel Fernandes) Dia 29 de setembro, 18h (estréia). DVD duplo, com dois atos – Duração: Ato 1/DVD 1 – 191 minutos; Ato 2/DVD 2 – 145 minutos. TOTAL: 336 minutos.

A Luta I (Direção Elaine César) Dia 30 de setembro, 18h (estréia). DVD duplo, com dois atos – Duração: Ato 1/DVD 1 – 188 minutos; Ato 2/DVD 2 – 162 minutos. TOTAL: 350 minutos.

A Luta II (Direção Eryk Rocha e Pedro Paulo Rocha) Dia 1º de outubro, 12h (estréia). DVD duplo, com dois atos – Duração: Ato 1/DVD 1 – 220 minutos; Ato 2/DVD 2 – 149 minutos. TOTAL: 369 minutos.

Prêmios da montagem teatral Os Sertões A TERRA ganhou o Prêmio Shell 2002 nas categorias Melhor Direção e Melhor Música * O HOMEM I ganhou o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de Melhor Espetáculo de 2003 * A LUTA I ganhou os Prêmio Bravo Prime de Cultura de Melhor Espetáculo de 2005, oferecido pela Revista Bravo!; Prêmio APCA de Melhor Espetáculo; Prêmio Shell 2005, na categoria melhor Cenografia e Categoria Especial de Direção de Cena.

*

para mais informações acesse o site oficina

*

19.9.10

A Vertigem :: grupo Patela Cia teatro&dança

*


O espetáculo traz em cena Fédon, príncipe insigne, escravo, bailarino de prostíbulos da Grécia antiga, discípulo de Sócrates. Sua trajetória é marcada pela dor e pelo amor, elementos básicos de sua filosofia.
O trabalho mistura teatro & dança na encenção, pesquisa que vem sendo realizada desde 2008 pelo fundador do grupo, Robson Vieira.

nos dias 24, 25 e 26 de setembro, em Belo Horizonte, acontecerá a estréia de um trabalho ainda em processo de criação, ou seja, essa primeira apresentação faz parte do laboratório cênico que continua em experivivências depois da estreia.

talvez esse seja seu maior encantamento para nós do grupo: apresentar uma obra onde a indeterminação e o acaso são causa e consequência de uma busca racional capaz de conhecer o estado presente d'a Vertigem, prever seu futuro e reconstituir o passado dessa mesma busca.

intérprete corporal: Robson Vieira;
diretor: Claudio Márcio;
Texto: Patrícia MC Quade (co-autores: Robson Vieira e Claudio Márcio)
Cenário e Figurinos: Juliana Palhares
fotografia: Luciene Oliveira
Produção : A Patela Cia teatro&dança.

*

onde?
no Espaço Ambiente! rua Grão Pará, 185 - Santa Efigênia

sexta às 20h (com bate papo depois do espetáculo); sábado às 20h e domingo às 19h.
ingressos a preços mais que populares!

*

Heróis

*
eduardo galeano
(tradução livre :: patrícia mc quade)

Desde longe, os presidentes e os generais mandam matar.

Eles não brigarão mais do que em disputas conjugais.

Não derramarão mais sangue do que num corte ao barbear-se.

Não respirarão mais gases venenosos do que cospe o automóvel.

Não se afundarão no barro, por muito que chova no jardim.

Não vomitarão pelo cheiro dos cadáveres apodrecendo ao sol, senão por alguma intoxicação de sanduíches.

Não lhes perturbarão as explosões que despedaçarão pessoas e cidades, sen
ão os foguetes que celebrarão a vitória.

Não lhes perseguirão o sonho os olhos de suas vítimas.


***
bibliografia: GALEANO, Eduardo. Bocas del tiempo. Buenos Aires : Catálogos, 2004, p. 321.

***


"El sueño de la razón produce monstruos" :: goya (1746 / 1828)

***



Poema para Lili :: de Fernando Pessoa acriançado

*
Levava eu um jarrinho
P'ra ir buscar vinho
Levava um tostão
P'ra comprar pão:
E levava uma fita
Para ir bonita.

Correu atrás
De mim um rapaz:
Foi o jarro p'ra o chão,
Perdi o tostão,
Rasgou-se-me a fita...
Vejam que desdita!

Se eu não levasse um jarrinho,
Nem fosse buscar vinho,
Nem trouxesse uma fita
Pra ir bonita,
Nem corresse atrás
De mim um rapaz
Para ver o que eu fazia,
Nada disto acontecia.

Fernando Pessoa

5.9.10

A Vertigem :: grupo Patela Cia teatro&dança

*

Se trata de um solo de dança combinado com fortes elementos cênicos.

A Vertigem conta de forma poética, dançante e intensa a história de Fédon, discípulo de Sócrates,
a partir de uma perspectiva outra daquela já conhecida: não só como um personagem dos diálogos de Platão contando os últimos instante de Sócrates antes de ser executado,
mas como um homem trágico contando sua própria história dolorida e amorosamente bela.

A trajetória de vida de Fédon é surpreendente, contudo há poucas referências,
e quase nenhum indício, de sua existência na história da filosofia.
Talvez o que tenha chegado até nós não passe de ficção e
Fédon não seja mais que um personagem criado por Platão.
Mas isso não tira a beleza de sua história, pelo contrário:

nos abre a possibilidade de criação!

Como me disse um recente amigo estudante de filosofia, Adilson,
o que importa não é saber se Sócrates ou Fédon tenham existido,
o importante é o legado de seus pensamentos filosóficos
que repercute e provoca jovens e adultos até os dias de hoje.

Nossa proposta teve como ponto de partida um conto de Marguerite Yourcenar, "Fédon" do livro Fogos, que Robson Vieira - intérprete, idealizador e criador - leu, se apaixonou e percebeu nele um intenso diálogo com a dança, música, poesia, teatro.

Esse desejo de conceber 'Fédon' agregou outros colaboradores:

Claudio Márcio - diretor;
Juliana Palhares - cenógrafa;
eu Patrícia Mc Quade - na dramaturgia

Todos vivenciamos um processo coletivo onde a partitura corporal, criada por Robson Vieira, delineou a forma e o conteúdo da obra que foi enriquecida por uma incrível interseção de contribuições e trocas de ideias até chegar no espetáculo d'A Vertigem.


Estrearemos no Espaço Ambiente nos dias 24 , 25 e 26 ...de setembro.
Os ingressos a preços populares: Sexta R$ 2,00 e Sábado e domingo R$ 5,00.

Esperamos vocês lá para nos dar a força da presença amiga
e a energia necessária que precisamos para confiar que fazer arte ainda vale a pena;
apesar de todas a dificuldades financeiras nessa busca frenética pela sobrevivência.

evoé!

***

1.9.10

Artes e Espacialidades :: Relações Contemporâneas

essa é uma dica da karine joyce. eu vou estar lá pra ver o que acontece.


Arte e Novas Espacialidades: Relações Contemporâneas no Oi Futuro, Belo Horizonte

O projeto Arte e Novas Espacialidades: Relações Contemporâneas consiste em seminário, mostra de vídeo e exposição em torno da produção artística e sua relação com as formas do espaço na contemporaneidade.

Foucault em seu texto “Outros espaços” afirma que estamos experimentando a era do espaço. A era do tempo já passou e agora, nos embates da vida contemporânea, a dimensão espacial pode revelar as formas como vivemos, nos relacionamos com os outros e construímos nossa subjetividade. Nesse sentido, compreender a dimensão espacial é aproximar-se dos conflitos, embates e tensionamentos que caracterizam as múltiplas facetas da contemporaneidade.

14 de setembro a 13 de outubro de 2010

Oi Futuro Belo Horizonte
Av. Afonso Pena, 4001
www.artespacos.blogspot.com
Ingressos podem ser retirados 30 minutos antes do início da sessão
Mostras de Vídeo e Palestras comentadas seguida de debate com os palestrantes e o moderador, junto com o público.

Veja a programação aqui!

***


*

*
então deixo a pena de lado.
escrever seu nome,
é melhor que seja a dedo
na areia pro mar lamber

volúpia do apagamento:
lembrar é esquecer.
~

~

*
o que mais se compartilha é a solidão
da gente estar só
em meio a essa multidão

!

29.8.10

:: O inferno de bosch e graciliano ramos ::

*

O inferno :: de Hieronimus Bosch :: sec. xv

"Súbito ouvi uma palavra doméstica e veio-me a idéia de procurar a significação exata dela. Tratava-se do inferno. Minha mãe estranhou a cuirosidade: impossível um menino de seis anos, em idade de entrar na escola, ignorar aquilo.

O inferno era um nome feio que não devíamos pronunciar. Mas não era apenas isso. Exprimia um lugar ruim, para onde as pessoas mal-educadas mandavam outras, em discussões.

Instada, condescendeu. Afirmou que aquela terra era diferente das outras. Não havia lá plantas, nem currais, nem lojas, e os moradores, péssimos, torturados por demônios de rabo e chifres, viviam depois de mortos em fogueiras maiores que as de S. João e em tachas de breu derretido.

Fogueiras de S. João eu conhecia. Tinha-se feito uma diante da casa.

Também conhecia o breu derretido.

(...) como admitir que pessoas resistissem muitos anos a barricas cheias de breu derramadas em tachas fundas, sobre fogueiras de S. João?

— Eu queria saber se a senhora tinha estado lá.
— Os padres estiveram lá?

Minha mãe estragara a narração com uma incongruência. Assegurara que os diabos se davam bem na chama e na brasa. Desconhecia, porém a resistência das almas supliciadas. Dissera que elas suportariam padecimentos eternos. Logo insinuara que depois de estágio mais ou menos longo, se transformariam em diabos.

Reclamava uma testemunha, alguém que tivesse visto diabos chifrudos, almas nadando em breu. Ainda não me havia capacitado de que se descrevem perfeitamente coisas nunca vistas.

— Os padres estiveram lá? tornei a perguntar.

Minha mãe irritou-se, achou-me leviano e estúpido. Não tinham estado, claro que não tinham estado, mas eram pessoas instruídas, aprendiam tudo no seminário, nos livros. Senti forte decepção: as chamas eternas e as caldeiras medonhas esfriaram."

***

RAMOS, Graciliano. Infância. Record: Rio de Janeiro, 1980. p. 78-80.

***

27.8.10

&

*
Quero voltar! Não sei por onde vim…
Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!

(Florbela Espanca)

22.8.10

desconstruindo medusa

*
dizem:

os homens são de Marte
e
as mulheres de Vênus

!

mas me explique,
se possível for,

pra que guerras e armas
e não só prazer e amor

?

..

Furtos e rapinas

*
eduardo galeano
(tradução livre :: patrícia mc quade)

As palavras perdem seu sentido, enquanto perdem sua cor o mar verde e o céu azul, que foram pintados gentilmente pelas algas que lançaram oxigênio durante três bilhões de anos.

E a noite perde suas estrelas. Já há cartazes de protestos pregados nas grandes cidades do mundo:

Não nos deixam ver as estrelas.

Assinado: As pessoas.

E no firmamento apareceram já muitos cartazes que clamam:

Não nos deixam ver as pessoas.

Assinado: As estrelas.

***

bibliografia: GALEANO, Eduardo. Bocas del tiempo. Buenos Aires : Catálogos, 2004, p. 249.

***

site :: arnaldo antunes




para quem gosta e quer conhecer mais.

http://www.arnaldoantunes.com.br/

leitura e curtição visual recomendada.

***


Os Buracos do Espelho

Arnaldo Antunes
O Globo: 27/07/2009

o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqui
com um olho aberto, outro acordado
no lado de lá onde eu caí

pro lado de cá não tem acesso
mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some

a janela some na parede
a palavra de água se dissolve
na palavra sede, a boca cede
antes de falar, e não se ouve

já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada
vou ficar ali nessa cadeira
uma orelha alerta, outra ligada

o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar agora
fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora

***


19.8.10

conversa de caleidoscópios:

— eu bem-te-vi!
— eu também, meu bem-te-vi, te-vi!!!

5.8.10

O Evangelho segundo Jesus Cristo :: de Saramago

*
Não é preciso mencionar o tema desse romance de Saramago. O título por si já conta tudo e me estender em detalhes seria redundante demais diante de uma história que já é conhecida por nós desde antes de nos conhecermos por gente neste mundo cristão.

A novidade consiste na invenção de Saramago em nos apresentar um filho de Deus humanizado desde a sua concepção até a sua morte: rebelde, teimoso, frágil, corajoso, pretensioso, arrogante, mas antes de tudo amoroso. Como todos os mártires são personagens inventados, Jesus Cristo se nos apresenta como um mártir planejado meticulosamente pela mente fria de um Deus tirano que não conhece as dores e os prazeres humanos, mas que tem em comum um sentimento único compartilhado com todos os seres racionais criados por ele: o desejo de poder sobre a mente e a vontade dos seres humanos.

Em um dos capítulos finais – numa conversa entre Deus, Jesus e o Diabo em alto mar – não é difícil fazer uma associação de Deus com a sanha imperialista dos romanos, de Napoleão, Hittler, Stalin, ou mesmo Georg W. Bush (!?). Para expandir sua fama sobre a Terra, e consequentemente o seu poder, Deus justifica o holocausto de incontáveis vidas em seu Nome ao longo da sangrenta Era cristã com a célebre frase anacrônica de Maquiavel: “Os fins justificam os meios”.

Ética bélica para “honra e glória de seu Nome”: pessoas de diferentes idades e sexos serão torturadas, queimadas, crucificadas, devoradas por feras, apedrejadas, estupradas, degoladas, açoitadas, dessangradas, mutiladas, afogadas, humilhadas, esfaqueadas, flechadas, etc, etc, etc. eis a revelação feita a Jesus momentos antes de seu martíro.

Não quero aqui revelar cada surpresa, cada ironia que o romance resguarda, mas é importante pontuar que o autor consegue, numa engenhosidade estética e pelos meandros de uma narrativa inusitada aos olhos de qualquer herdeiro da cultura cristã, dessacralizar os evangelhos do novo testamento ao preencher as lacunas que as escrituras não explicam e ao reformular os moldes da história humana tão bem aprendida durante nossa vida escolar. Um exemplo concreto na narrativa, no primeiro caso, seria o que aconteceu na vida de Jesus quando este ainda era adolescente e como ele se tornou homem feito, fato oculto nas escrituras; no segundo caso, quando Deus conta o destino da humanidade, a pedido de Jesus, se caso ele cumprisse os desígnios da profecia e aceitasse morrer cravado na cruz se tornando o salvador de todos os pecadores que arrependidos se convertessem ao cristianismo, seja judeus ou gentios. É a "salvação" estendida a todos os povos da Terra, além de seu pretensioso povo escolhido.

Se Saramago consegue, em sua inventividade, romancear toda a vida de Jesus, ele não deixa de abrir outras lacunas para que nós, leitores, possamos preenchê-las com indagações sobre: Quem é Deus? Quem é o Diabo? O que é a verdade? Qual a função da culpa? Qual é a dor que mais nos atormenta? Assim, Saramago leva o leitor a reinterpretar por própria conta e risco uma versão particular da história do filho do homem aqui na terra.

E para mim, leitora que tem os olhos e o coração voltados para o amor incondicional, o clímax da narrativa não está na morte de Jesus sendo crucificado, mas sim no milagre do amor recíproco de Jesus de Nazaré por Maria de Magdala. A lealdade, a cumplicidade, a compreensão mútua por diversas vezes me emocionaram e guardo de memória uma das inúmeras declarações de amor que se fazem por si e pelo outro:

“Jesus foi juntar-se aos discípulos, e Maria de Magdala foi com ele, Olharei a tua sombra se não quiseres que te olhe a ti, disse-lhe, e ele respondeu, Quero estar onde a minha sombra estiver, se lá é que estiverem os teus olhos”. (grifo meu)

Não tem jeito, eu sou de fato uma romântica irremediável ;)

E quem nega seu próprio romantismo, é muito mais romântico que eu!

***
posologia para a leitura:
siga o pulso da narrativa que altera seu ritmo
à medida que o amor de Jesus
por Maria de Magdala e pela humanidade aumenta.


SARAMAGO, José. O Evangelho segundo Jesus Cristo.
São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

***


31.7.10

os três mal amados :: de joão cabral de melo neto

*
"Joaquim:

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome".

~

bibliografia:
poema "Os Três Mal Amados", do livro João Cabral de Melo Neto - Obras Completas, Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.

30.7.10

:: a casa de lá ::



O espetáculo A Casa de Lá conta a estória de um casal desde a infância até a velhice. Um casal como qualquer outro – com suas tristezas e alegrias, suas partidas e chegadas. Inspirado na obra de Guimarães Rosa e fruto de um trabalho de pesquisa desenvolvido no Vale do Jequitinhonha (MG), o espetáculo – que reúne o Teatro Diadokai, o grupo Girau e o ator Cristiano Peixoto, e já foi apresentado em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo – está de volta à cena mineira para uma temporada no

Galpão Cine Horto, de 29 de julho à 1º de agosto.


Idéia original :: Cristiano Peixoto
Direção :: Ricardo Gomes

Dramaturgia :: Ricardo Gomes e Cristiano Peixoto (livremente inspirada na obra de João Guimarães Rosa e nas histórias orais dos moradores do Vale do Jequitinhonha, em especial Josefa Alves dos Reis (Dona Zefa) e Antônio Luis de Matos (Mestre Antônio)

Elenco :: Amanda Prates, Cristiano Peixoto e Priscilla Duarte
Direção musical e Trilha sonora original :: Amanda Prates
Músicos :: Grupo Girau - Gabriela da Costa e Daniel Guedes
Figurino ::Priscilla Duarte
Cenário :: Bruna Christófaro
Teatro de sombras :: criação - Paulinho Polika e Thaís Moreira / Manipulação :: Bárbara Henriques e Natali Bentley
Iluminação :: Felipe Cosse


Assistente de Iluminação :: Tainá Rosa
Coordenação de produção :: Regina Célia
Produção executiva :: Gabriela da Costa
Luthier :: Antonio Moreira
Cenotécnicos :: Antonio Moreira e Joaquim Agostinho Costureira :: Maria Guiomar da Silva
Projeto gráfico :: Otávio Santiago
Filmagem :: Mauricio Resende
Fotografia :: Naty Torres
Administração :: Silvia Batista

26.7.10

Os amorosos

*
de Jaime Sabines
(tradução livre :: patrícia mc quade)

Os amorosos calam.
O amor é o silêncio mais fino,
o mais temeroso, o mais insuportável.
Os amorosos buscam,
os amorosos são os que abandonam,
são os que mudam, os que esquecem.
Seu coração lhes diz que nunca vão encontrar,
não encontram, buscam.

Os amorosos andam como loucos
porque estão sós, sós, sós,
entregando-se, dando-se a cada momento,
chorando porque não salvam o amor.
Preocupa-lhes o amor. Os amorosos
vivem o dia, não podem fazer mais, não sabem.
Sempre estão indo,
Sempre, para alguma parte.
Esperam,
Não esperam nada, mas esperam.
Sabem que nunca vão encontrar.
O amor é a delonga perpétua,
sempre o passo seguinte, o outro, o outro.
Os amorosos são os insaciáveis,
Os que sempre – que bom! – vão estar sós.

Os amorosos são a hidra do conto.
Têm serpentes no lugar de braços.
As veias do pescoço se incham
também como serpentes para asfixiá-los.
Os amorosos não podem dormir
porque se dormem lhes comem os vermes.

Na escuridão abrem os olhos
E lhes sobressalta o espanto.

Encontram escorpiões debaixo do lençol
E sua cama flutua sobre um lago.

Os amorosos são loucos, só loucos,
sem Deus e sem diabo.

Os amorosos saem de suas covas
temerosos, famintos,
para caçar fantasmas.
Riem das pessoas que sabem de tudo,
das que amam o perene, verídicamente,
das que acreditam no amor como uma lâmpada de inesgotável azeite.

Os amorosos brincam de agarrar água,
de tatuar fumaça, de não se ir.
Jogam faz tempo, o triste jogo do amor.
Ninguém há de resignar-se.
Dizem que ninguém há de resignar-se.
Os amorosos se envergonham de toda conformidade.

Vazios, mas vazios de uma a outra costela,
a morte lhes fermenta atrás dos olhos,
E eles caminham, choram até a madrugada
quando trens e galos se despedem dolorosamente.

Sentem às vezes um cheiro de terra recém nascida,
de mulheres que dormem com a mão no sexo, gozosas
de córregos de água carinhosa e de cozinhas.
Os amorosos cantam entre lábios
uma canção não aprendida,
e se vão chorando, chorando,
a formosa vida.

***

para ler o poema em espanhol, acesse lobos y cabritos :: de gabriela carrión

***

22.7.10

~

*
"Foi ontem, e é o mesmo que dizermos, Foi há mil anos, o tempo não é uma corda que se possa medir nó a nó, o tempo é uma superfície oblíqua e ondulante que só a memória é capaz de fazer mover e aproximar
".
(josé saramago)

*

SARAMAGO, José. O Evangelho segundo Jesus Cristo.
São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 168.

21.7.10

escena XIX :: calderón de la barca :: la vida es sueño

*
(tradução livre :: patrícia mc quade)



É verdade, pois reprimamos
esta fera condição,
esta fúria, esta ambição
se alguma vez sonhamos.
E si faremos, pois estamos
num mundo tão singular,
que o viver só é sonhar;
e a experiência me ensina
que o homem que vive sonha
o que é até despertar.
Sonha o rei que é rei, e vive
com este engano mudando,
dispondo e governando;
e este aplauso que recebe
emprestado, no vento escreve,
e em cinzas se converte
a morte (augúrio forte!)
O que há com quem tenta reinar?
Vendo que há de despertar
no sonho da morte!
Sonha o rico em sua riqueza
que mais cuidados lhe oferece;
sonha o pobre que padece
sua miséria e sua pobreza;
sonha o que medir começa
sonha o que afana e pretende;
sonha o que agoniza e ofende;
e no mundo, em conclusão,
todos sonham o que são,
mesmo que ninguém entende.
Eu sonho que estou aqui
destas prisões carregado,
e sonhei que noutro estado
mais lisonjeiro me vi.
O que é a vida? Um frenesi.
O que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção,
e o maior bem é pequeno;
que toda a vida é sonho;
e os sonhos, sonhos são.

***

Es verdad; pues reprimamos
esta fiera condición,
esta furia, esta ambición
por si alguna vez soñamos.
Y sí haremos, pues estamos
en mundo tan singular,
que el vivir sólo es soñar;
y la experiencia me enseña
que el hombre que vive sueña
lo que es hasta despertar.
Sueña el rey que es rey, y vive
con este engaño mandando,
disponiendo y gobernando;
y este aplauso que recibe
prestado, en el viento escribe,
y en cenizas le convierte
la muerte (¿desdicha fuerte!);
¿que hay quien intente reinar,
viendo que ha de despertar
en el sueño de la muerte!
Sueña el rico en su riqueza
que más cuidados le ofrece;
sueña el pobre que padece
su miseria y su pobreza;
sueña el que a medrar empieza,
sueña el que afana y pretende,
sueña el que agravia y ofende;
y en el mundo, en conclusión,
todos sueñan lo que son,
aunque ninguno lo entiende.
Yo sueño que estoy aquí
destas prisiones cargado,
y soñé que en otro estado
más lisonjero me vi.
¡Qué es la vida? Un frenesí.
¡Qué es la vida? Una ilusión,
una sombra, una ficción,
y el mayor bien es pequeño;
que toda la vida es sueño,
y los sueños, sueños son.

***

blibliografia: BARCA, Calderón de la. La vida es sueño. Buenos Aires: Olympia, 1995. p. 84, 85.

***

13.7.10

*

me lanço ao fundo do mar e voo até a mais alta estrela
mas eu sei onde fica a terra

~

12.7.10

Aranhas

*
eduardo galeano
(tradução livre :: patrícia mc quade)

Passinho a passo, fio após fio, o aranho se aproxima da aranha.

Oferece-lhe música, transformando a teia em harpa, e dança para ela, enquanto pouquinho a pouco vai acariciando, até o desmaio, seu corpo de veludo.

Então, antes de abraçá-la com seus oito braços, o aranho envolve a aranha na teia e a amarra bem amarrada. Se não a amarra, ela o devora depois do amor.

O aranho não gosta nada desse costume da aranha, de modo que ama e foge antes de que a prisioneira acorde e exija o serviço completo de cama e comida.

Quem entende o aranho? Ele poderia amar sem morrer, teve a manha de cumprir essa façanha, e agora que está a salvo de sua sanha, sente saudade da aranha.

***

bibliografia: GALEANO, Eduardo. Bocas del tiempo. Buenos Aires : Catálogos, 2004, p. 18.

***

a sua :: marisa monte

*


***

A Sua

Composição e voz :: Marisa Monte

Eu só quero que você saiba
Que estou pensando em você
Agora e sempre mais
Eu só quero que você ouça
A canção que eu fiz pra dizer
Que eu te adoro cada vez mais
E que eu te quero sempre em paz

Tô com sintomas de saudade
Tô pensando em você
E como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Mas te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem

Eu só quero que você caiba
No meu colo
Porque eu te adoro cada vez mais
Eu só quero que você siga
Para onde quiser
Que eu não vou ficar muito atrás

Tô com sintomas de saudade
Tô pensando em você
E como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Mas te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem

Eu só quero que você saiba
Que estou pensando em você
Mas te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem
E que eu te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem

***


11.7.10

*

*

bom dia, amor!
bom dia! insiste ela de novo.
— os sonhos cor-de-rosa
são tão ordinários quanto as meninas pálidas —
ao pensar assim, varia o sonho dalva decor,
concorda no azul, talvez.
e no amarelo de sua memória
há todo desejo branco de ser amada:
verde todo dia, lilás toda noite, verde-água a vida inteira.
bom dia, bom dia!
com a doçura vermelha de quem se quer amada,
muito, sempre e de novo.
bom dia!
matizes sabor laranja.

ad infinitum

*

*

"... os espelhos e os sonhos são coisas semelhantes,
é como a imagem do homem diante de si próprio..."
(josé saramago)

*

SARAMAGO, José. O Evangelho segundo Jesus Cristo.
São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 38.

4.7.10

el lado oscuro del corazón :: con poesía de mario benedetti

*


recorte de "El Lado Oscuro del Corazón" de eliseo subiela, argentina.
dario grandinetti y sandra ballesteros cantan poemas de mario benedetti.

nuestro poeta benedetti aparece como un náufrago jubilado cantando versos en alemán a una aburrida muchacha
al final del video.

No te salves

mario benedetti

No te quedes inmóvil
al borde del camino
no congeles el júbilo
no quieras con desgana
no te salves ahora
ni nunca
no te salves
no te llenes de calma

no reserves del mundo
sólo un rincón tranquilo
no dejes caer los párpados
pesados como juicios

no te quedes sin labios
no te duermas sin sueño
no te pienses sin sangre
no te juzgues sin tiempo

pero si
pese a todo
no puedes evitarlo
y congelas el júbilo
y quieres con desgana
y te salvas ahora
y te llenas de calma
y reservas del mundo
sólo un rincón tranquilo
y dejas caer los párpados
pesados como juicios
y te secas sin labios
y te duermes sin sueño
y te piensas sin sangre
y te juzgas sin tiempo
y te quedas inmóvil
al borde del camino
y te salvas
entonces
no te quedes conmigo.

***


Não se salve

(tradução livre :: patrícia mc quade)


Não fique imóvel
à margem do caminho
não congele seu júbilo
não ame sem vontade
não se salve agora
nem nunca
não se salve
não se farte de calma

não reserve do mundo
só um canto tranquilo
não deixe cair suas pálpebras
pesadas como juízos

não fique sem lábios
não se durma sem sonho
não se pense sem sangue
não se julgue sem tempo

mas se
apesar de tudo
não puder evitar
e congela seu júbilo
e ama sem vontade
e se salva agora
e se farta de calma
e reserva do mundo
só um canto tranquilo
e deixa cair suas pálpebras
pesadas como juízos
e se seca sem lábios
e se dorme sem sonho
e se pensa sem sangue
e se julga sem tempo
e fica imóvel
à margem do caminho
e se salva
então
não fique comigo

***

3.7.10

um soneto :: para o embalo de sábado à noite

*
Mario Quintana

Esses inquietos ventos andarilhos
Passam e dizem: “Vamos caminhar.
Nós conhecemos misteriosos trilhos,
Bosques antigos onde é bom cismar...

E há tantas virgens a sonhar idílios!
E tu não vieste, sob a paz lunar
Beijar os seus entrefechados cílios
E as dolorosas bocas a ofegar...”

Os ventos vêm e batem-me a janela:
“A tua vida: Que fizeste dela?”
E chega a morte: “Anda! Vem dormir...

Faz tanto frio...e é tão macia a cama...”
Mas toda a longa noite ainda hei de ouvir
A inquieta voz dos ventos que me chama!...

***

bibliografia sonhada:
QUINTANA, Mário. A rua dos Cataventos. p. São Paulo: Globo, 2005. p. 36;


***

28.6.10

psiu,

*
silêncio!
cessa o alarido dos ouvidos
calado coração o desassossego

*

27.6.10

Esse vão costume que me inclina ao sul

1964 / Jorge Luis Borges
(tradução livre :: patrícia mc quade)

I

Já não é mágico o mundo. Abandonaram você
Já não compartilhará a clara lua
nem os lentos jardins. Já não há uma
lua que não seja espelho do passado,
cristal de solidão, sol de agonias.
Adeus as mutuas mãos e as têmporas
que aproximava o amor. Hoje você só tem
a fiel memória e os desertos dias.
Ninguém perde (repete você em vão)
senão algo que não tem nem teve
nunca, contudo não basta ser valente
para aprender a arte do esquecimento.
Um símbolo, uma rosa, se lhe desgarra
E pode matar você uma guitarra.


II

Já não serei feliz. Talvez não importa.
Há tantas outras coisas no mundo;
um instante qualquer é mais profundo
e diverso que o mar. A vida é curta
e ainda que as horas sejam tão longas, uma
escura maravilha nos espía,
A morte, esse outro mar, essa outra flecha
que nos livra do sol e da lua
e do amor. A sorte que você me deu
e me tomou deve ser apagada;
o que era tudo tem que ser nada.
Só me resta o gozo de estar triste,
esse vão costume que me inclina
ao sul, a certa porta, a certa esquina.

***

para consultar o poema em espanhol acesse :: una argentina en bh

***

25.6.10

nenhuma verdade sobre mim

*

(foto de :: Alessandro Bavari)

não existe nenhuma verdade em mim. a mentira é a minha maquiagem preferida. a falsidade brilha em meus olhos e lábios revelada no reflexo do espelho de todos os olhos que me olham. minha roupa é a fraude de minha ideologia franco-anárquica. as pessoas que beijei são pura afirmação contrária de minha verdade que não existe a fim de induzir-me a mais e mais erros sem fim. meu sexo é enganador, ilude quem o toca. quem se aproxima de mim também não é real, apenas na aparência pensa que me conhece e nesta busca em constância transforma-me em ilusão, fábula, ficção de uma história onde perdura tudo o que é fugaz. meus vícios são lascivos, costumes supérfluos, prejudiciais e totalmente censuráveis, são erros contra as regras da linguagem ou de um outro saber de corporeidade imperfeita. a cidade onde habito também habita em mim de forma desorganizada e caótica. sou um pequeno pastel desprovido de recheio, uma mentirinha de pão-de-ló labiríntica que perturba quem por mim se envereda na busca de meu reconhecimento e nada encontra a não ser muros de pedras despedaçadas de minhas vivências decadentes. meu crime contra a fé pública consiste na alteração intencional da verdade com o intuito de profanar o sagrado e o eterno. invento perguntas das quais não busco respostas. e nessa falta de autenticidade está a minha obra maior: reinvento o amor nietzschiano, o pragmatismo amoroso de uma pluralidade inesgotável e frequentemente contraditória que se revela inútil aos interesses da humanidade em geral.

sou a deusa da criação de todas as coisas que não valem a pena no papel.

***
se me decifras
eu te devoro!

(a esfinge fingida)

***

23.6.10

lamento de ariadna :: Friedrich Nietzsche

*
Quem me aquece, quem me ama ainda?
Dê a mim mãos ardentes!
Dê a mim um braseiro para o coração!
Estendida na terra, estremecendo-me,
como uma meio morta a quem se aquece os pés,
agitada, ai, por febres desconhecidas,
tremendo perante glaciais flechas agudas de arrepios,
caçada por você, pensamento!
Inominável! Escondido! Aterrador!
Você caçador entre as nuvens!
Fulminada na terra por você,
Olho sarcástico que me olha desde o escuro!
Assim estou jacente
dobrada, retorcida, atormentada
por todos os martírios eternos,
ferida,
por você, o mais cruel caçador,
seu desconhecido, deus…

Fira mais fundo!
Fira de novo!
Corte, recorte este coração!
Para que vem este martírio
com flechas de dentes redondos?
O que olha outra vez
sem se cansar do tormento humano
com malévolos olhos de raios divinos?
Não quer você matar,
somente martirizar, martirizar?
Para que martirizar a mim,
malévolo deus desconhecido?

Ah, ah!
Você se aproxima sinuoso
semelhante à meia-noite?...
O que quer?
Fale!
Aperte-me, oprima-me,
ah! já está muito próximo!
Ouça-me respirar,
espíe meu coração,
ciumento!
— mas, ciumento de que?
Fora, fora!
para que a escada?
você quer subir
penetrar, até o coração,
subir até meus mais
secretos pensamentos?
Devasso! Desconhecido! Ladrão!
O que quer levar roubando?
O que quer levar escutando?
O que quer levar atormentando?
você, atormentador!
você, deus carrasco!
Ou como um cão devo
esfregar-me contra o chão diante de você?
Submissa, admirada fora de mim
balançar o rabo por amor?
É inútil!
Fira-me outra vez,
aguilhão o mais cruel!
Não sou seu cão, só sua presa,
caçador o mais cruel!
sua mais orgulhosa prisioneira,
bandido detrás das nuvens…
Fale afinal!
Você, escondido com o raio! Desconhecido! fale!
O que quer, salteador, de mim?...

Como?
Um resgate?
O que quer de resgate?
Você pede muito, aconselha-o meu orgulho!
E fala pouco, aconselha-o meu orgulho!

Ah, ah!
sou eu quem você quer? Eu?
eu inteira?
Ah, ah!
E me martiriza? Louco que você é, louco!
Re-martirize meu orgulho?
Dê a mim o amor, quem me aquece ainda?
quem me ama ainda?
dê a mim mãos ardentes,
dê a mim um braseiro para o coração,
dê a mim, à mais solitária,
à que o gelo, ai! sete camadas de gelo
ensinam a somar inimigos,
dê, sim, entregue,
inimigo o mais cruel,
dê a mim, a você!

Acabou-se!
Então fugiu ele,
meu único companheiro,
meu grande inimigo
meu deus carrasco!...
Não!
volte!
Com todos os seus martírios!
Todo o curso de minhas lágrimas
escorre até você,
e a última chama de meu coração
para você re-acende.
Oh, volte,
meu deus desconhecido! minha dor!
Minha última felicidade!...

Um raio. Dionisio aparece com esmeraldina beleza.

Dionisio:

Seja sensata, Ariadna…
Tenha ouvidos pequenos, tenha meus ouvidos:
coloque neles uma palavra sensata!
Como odiar-se primeiro, se tem que amar-se?...
Eu sou o seu labirinto...

***

(tradução livre do espanhol de patrícia mc quade)

19.6.10

História clínica

*
eduardo galeano
(tradução livre :: patrícia mc quade)

Informou que sofria taquicardia cada vez que o via, mesmo que fosse de longe.

Declarou que secavam suas glândulas salivares quando ele a mirava, mesmo que fosse de viés.

Admitiu uma hipersecreção das glândulas sudoríparas cada vez que ele lhe falava, mesmo que fosse para responder-lhe a uma saudação.

Reconheceu que padecia de graves desequilíbrios na pressão sanguínea quando ele a roçava, mesmo que fosse por engano.

Confessou que por ele padecia de tonturas, que se turvava a visão, que se afrouxavam os joelhos. Que de dia não conseguia parar de dizer bobagens e de noite não conseguia dormir.

— Foi-se há muito tempo, doutor — disse —. Eu nunca mais senti nada disso.

O médico arqueou as sobrancelhas:

— Nunca mais sentiu nada disso?

E diagnosticou:

— Seu caso é grave.

***

bibliografia: GALEANO, Eduardo. Bocas del tiempo. Buenos Aires : Catálogos, 2004, p. 09.

***

um presente que vem de longe

*



"Longe" do cd "IÊ IÊ IÊ" de arnaldo antunes (2009)

***



17.6.10

*

*

"o tempo é uma tempestade de séculos!"

magritte yourcenar

*

por que um corvo se parece a uma escrivaninha?

*

“Você já decifrou a adivinhação?” perguntou o Chapeleiro, voltando-se outra vez para Alice.
“Não, desisto”, respondeu Alice. “Qual é a resposta?”
“Não faço a mínima idéia”, disse o Chapeleiro.
“Nem eu”, disse a Lebre de Março.
Alice suspirou enfadada. “Acho que você deveria aproveitar melhor o tempo”, disse ela, “em vez de gastá-lo com adivinhações sem resposta.”
“Se você conhecesse o Tempo tão bem quanto eu conheço”, disse o Chapeleiro, “você não falaria em gastá-lo, como uma coisa. Ele é alguém.”
“Não sei o que você quer dizer”, disse Alice.
“É claro que você não sabe!” disse o Chapeleiro, inclinando a cabeça com desdém. “Eu diria até mesmo que você nunca falou com o Tempo!”
“Talvez não”, respondeu Alice com cautela, “mas sei que devo marcar o tempo quando aprendo música.”
“Ah! Isso explica tudo!” disse o Chapeleiro. “Ele não suporta ser marcado. Agora, se você mantivesse com ele boas relações, ele faria qualquer coisa que você quisesse com o relógio. Por exemplo, suponha que fossem nove horas da manhã, justamente a hora de começarem as lições: você teria apenas de sussurrar uma dica ao Tempo, e o ponteiro giraria num piscar de olhos: uma e meia, hora do almoço!”
(“Como eu gostaria que fosse assim mesmo”, sussurrou a Lebre de Março para si mesma.)
“Seria fantástico, com certeza”, disse Alice, pensativa; “mas, então, eu ainda não estaria com fome, não é?”
“Não a princípio, talvez”, disse o Chapeleiro, “mas você poderia permanecer à uma e meia por quanto tempo quisesse.”
“É assim que você faz?” indagou Alice.
O Chapeleiro balançou a cabeça com desgosto: “Eu não!”, disse. “Nós brigamos em março passado... logo antes dela ficar louca, sabe...” (apontou com sua colher para a Lebre de Março),
“foi no grande concerto oferecido pela Rainha de Copas, e eu tinha de cantar:

‘Pisca, pisca, morceguinho,
Aonde vais nem adivinho.’

Você conhece a canção, não é?”
“Já ouvi algo parecido”, disse Alice.
“E continua, sabe”, emendou o Chapeleiro, “assim:

‘Lá no céu, como travessa
Para chá, voas depressa.
Pisca, pisca—’”

(...)
“Bem, eu nem acabara o primeiro verso”, disse o Chapeleiro, “quando a Rainha bradou: ‘Ele está matando o tempo! Cortem-lhe a cabeça!’”
“Mas que selvageria!” exclamou Alice.
“E desde então”, continuou o Chapeleiro num tom pesaroso, “ele não faz nada do que eu peço! São sempre seis horas!”
“É, é isso mesmo”, disse a Lebre de Março com um suspiro, “é sempre hora do chá, e nós não temos tempo de lavar a louça nos intervalos.”
“É por isso que vocês ficam girando em torno da mesa?” disse Alice.
“Exatamente”, disse o Chapeleiro, “conforme as louças vão ficando sujas.”
“Mas o que acontece quando vocês retornam para o começo?” Alice ousou perguntar.
“Que tal se mudássemos de assunto?” interveio a Lebre de Março, bocejando. “Estou cansada deste. Meu voto é que a senhorita nos conte uma história.”

(...)

***

ilustração original: john tenniel
bibliografia: CARROLL, Lewis.
Alice. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. p. 70/71.


8.6.10

lançamento do livro :: Baile demáscaras :: de Renato Mendes

*


como diz Renato :: Um gostinho do livro

Vida em branco e preto - trecho - Dia


Caminhava em meio ao cheiro acre das ruas, sozinho por entre a gente, moendo-se e remoendo-me a todo o tempo, nada passava por sua cabeça senão aquele caminha, já rotinado, pelo qual andara e desandara inúmeras vezes e todas as outras coisas em que podia pensar. Esquecera-se, há muito, de olhar, passava os olhos por tudo o que o rodeava e não via nada além dos lítotes da vida, todas as dições e contradições que o encaravam. Perguntava-se por que, se em nada fixava a vista, mantinha-a aberta. Tentava fechá-la, tentara várias vezes durante o dia todo, todos os dias, porém sentia-se incapaz de fazê-lo, abléfaro. Nada escutava, ouvia apenas um ruído ao fundo, junto de meu chão, há anos a ruir sob meus pés, das pessoas inesgotáveis, sempre lho pareceram, fazendo seu trabalho inesgotável e passarem por nós, esgotados, desgostados, desgostosos. Nada lhe restava em mãos além de sua desvida, que apassara entre os cinco minutos de cada cigarro, único querer que nos era possível e, conseqüentemente, comum.

[...]

***

e quem quiser ler mais poesia de renato mendes, clique abaixo:

buraquinho do olvido

***

6.6.10

un regalito de carrión







***

9 de novembro de 2008Leticia Cossettini y sus alumnos relatan la experiencia pedagógica del Coro de los Niños Pájaros realizada en Rosario,. Argentina en los años 40 del siglo XX. Las Hermanas Cossettini fundan el modelo de Escuela Serena, basada en el método de la Escuela Nueva Europea.

Fragmento del Documental "La Escuela de la Srta. Olga".




e bagunçando a poética de oswald:

*

"poesia é também a descoberta das coisas que eu já (vi)vi".

*

5.6.10

*

*
em meio à aridez
do asfalto
dos prédios
das pedras
das gentes
da cidade
te quero você
meu oásis



30.5.10

*

*
baby, you're driving me crazy
i said baby, you're driving me crazy
the way you turn me on
then you shot me down
well, tell me baby
am I just your clown?

(the sonics :: mood of the day)

29.5.10

Contos e lendas da mitologia grega :: de Claude Pouzadoux

*
Aprendendo com os mitos

(Dicas de como trabalhar a mitologia grega na escola)

Estudar a mitologia grega nos leva a construir uma noção da trajetória do pensamento e da arte ocidental frente aos mistérios da natureza. Por outro lado, nos leva também a entender os dilemas e contradições que povoam o lado obscuro do homem contemporâneo a partir de traços de caráter e sentimentos dos antigos deuses, características essas que são encontradas também nas pessoas comuns independente da época em que vivem. Por essas e outras razões, nas minhas aulas de literatura, com adolescentes de 12 anos, escolhi a leitura da obra Contos e Lendas da Mitologia Grega, do autor Claude Pouzadoux – ed. Companhia das Letras.

O livro aborda os mitos dos deuses do Olimpo e conta, também, as fantásticas histórias de Jasão, Medéia e os Argonautas; os 12 Trabalhos de Hércules; a luta de Perseu contra a Medusa; a vitória de Teseu sobre o Minotauro; e o trágico destino de Édipo. A partir desses textos, fizemos reflexões sobre: Por que o homem cria seus deuses e heróis? Qual a relação que podemos fazer entre mito e história? Como esses mitos prevalecem vivos até os dias de hoje? Além de alimentar a imaginação e o universo criativo dos alunos do 1º ano do 3º ciclo da Escola da Serra.

Para garantir aprendizagens significativas, fizemos leituras coletivas em sala – paralelas a leituras individuais em casa – a fim de superar os desafios da linguagem erudita e desvendar os variados significados que envolvem mito e vida real. Ampliar esse potencial de significados ajuda os nossos alunos a entender melhor o mundo onde vivem e esse é o principal objetivo do estudo da literatura.

A mitologia grega está viva por toda parte no mundo ocidental: na literatura, no cinema, na música, na dança, no teatro, na filosofia, na psicanálise e até na língua que usamos diariamente. Os alunos se divertiram ao descobrir que o termo “Complexo de Édipo” é um conceito psicanalítico criado por Freud para entender a psique humana e que a palavra “cronômetro” e suas variantes vêm do nome do deus do tempo, o terrível Cronos. Outras descobertas interessantes continuam ao longo do trabalho.

O reconto ajudou os alunos a se apropriarem dessas histórias levando todos a reconhecerem esses personagens em situações vividas no dia-a-dia. Essa prática de produção oral e escrita, coletiva e individual, realizada por eles, reconfigura as histórias dentro de uma linguagem jovial e informal, própria de suas idades. Acabou por facilitar, também, o processo do trabalho de apresentações criativas onde a literatura estabelece um diálogo interessante entre artes plásticas e teatro. Além da palavra, muitas são as linguagens usadas na apresentação dos trabalhos (teatro de fantoches e de objetos, criação de histórias em quadrinhos, técnicas de colagem, modelagem com massinha e biscuits, etc.) e o desafio passa a ser com que cada grupo conte, à sua moda divertida e criativa, uma história do livro da qual ficou responsável para o restante da turma.

Neste trabalho não só passamos a conhecer o universo mitológico dos gregos como o principal ramo da origem do pensamento e da arte ocidental, mas nos divertimos muito com as artimanhas que Zeus usava para namorar as belas mulheres mortais, desvendamos e nos indignamos com os enigmas de Édipo, nos admiramos com as façanhas dos heróis trágicos, entre outros sorrisos e suspiros. O projeto continua no segundo semestre com as lendas indígenas brasileiras e os mitos africanos. O nosso próximo desafio é entender como a cultura brasileira está formada a fim de valorizar a nossa maior riqueza: nossa mestiçagem étnica e cultural.

***

bibliografia:
Pouzadoux, Claude. Contos e lendas da mitologia grega. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.


27.5.10

outro poema :: de Jacobo Fijman


Jacobo Fijman
tradução livre :: patrícia mc quade

Luador, quatro luas
luaram os céus
que valem aos trigos e cevadas,
uma lua de terra secará as maçãs
fechando-se nos olhos mais belos da morte
e você luante pelas luas luado
entre coisas e coisas
ainda o ser do verbo, e as luas, e o mar,
ainda o ser luado,
e os olhos abertos que sagram a morte.

***

Lunador, cuatro lunas
han lunado los cielos
que valen a los trigos y cebadas,
una luna de tierra secará las manzanas
cerrándose en los ojos más bellos de la muerte.
Y tú lunante por las lunas lunado
entre cosas y cosas,
aún el ser del verbo, y las lunas, y el mar,
aún el ser lunado,
y los ojos abiertos que sacran la muerte.


***

aqui em beagá a lua cheia está linda!