16.7.12

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... e esse sonho que dissipa o olho de fora quando se olha com o olho de dentro que olhando para fora se olha tanta coisa que o olho de fora já não consegue olhar o que tem fora sem ser com o olho de dentro e volta o olhar para dentro quando o olho de fora olha tentando encontrar o olhar do olho de dentro ... e se assim se olham, o olho de fora nuvem nada dentro no olho de dentro... mas o olho de dentro olha: olha olho olha sonho olha pedra olha nuvem olha pensamento...

15.7.12

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"Gritamos que queremos moldar um futuro melhor, mas não é verdade. O futuro nada mais é do que um vazio indiferente que não interessa a ninguém, mas o passado é cheio de vida e seu rosto irrita, fere, a ponto de querermos destruí-lo ou pintá-lo de novo. Só queremos ser mestres do futuro para podermos mudar o passado. Lutamos para ter acesso aos laboratórios onde se pode retocar as fotos e reescrever as biografias e a História".

KUNDERA, Milan. O Livro do Riso e do Esquecimento. Companhia das Letras: 2008. S.P. p. 30.

6.7.12

Quando vier a Primavera, 
Se eu já estiver morto, 
As flores florirão da mesma maneira 
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada. 
A realidade não precisa de mim. 

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro