Fazia um sol branco sem calor.
A primeira revelação que ela nos faria – como parecia feliz! – era
algo que apenas as crianças realmente inteligentes veriam como
extraordinário. Os tolos, os ignorantes, teriam medo – e que medo mais
sem cabimento! E fez-se uma expectativa, uma espera, como se ela
aguardasse que decidíssemos: e então, tolos ou sábios? Depois, puxou o plástico
negro que cobria um esqueleto. Riso nervoso dos garotos, estupefação
forçada dos mais cínicos, gritinhos das meninas.
- Calma, calma, ela pedia, forçando um sorriso como se estivesse
sorrindo mas tentando se conter. E com um tom elevado:
– Isto, meus alunos, é o homem!
O homem. Ou a mulher, acrescentou. Não havia razão para riso nem medo
– era de plástico e mais: era a ciência. Ela compreendia algum
espanto, mas tinha certeza de que não a decepcionaríamos.
Amontoamo-nos em torno do esqueleto, suas órbitas abertas, seu riso
sem direção, seus ossos enormes ou mínimos, atados com arame.
- A mulher? – perguntou um menino de cabeça raspada.
- Claro que sim. Por dentro somos iguaizinhos. – e as meninas pareciam
envergonhadas de sua nudez, ou como que traídas.
Minha professora morreu oito anos depois.
:: um miniconto de carino schlemihl ::
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