11.4.13

Poemeia sem Par


a estante vazia
dos livros sem assunto
dos bibelôs sem charme de mãos dadas

as paredes vazias
dos quadros sem viagens
das molduras sem fotos de namoro e um quase

as gavetas vazias
da bagunça costumeira
dos objetos perdidos à vista

a cama vazia
dos lençóis abandonados
dos corpos nus aconchados e acolchoados

o prato vazio
e uma colher que tirita à espera
de sua boca e um ranger de dentes

porém

há uma geladeira cheia
de frutos encerados de tempo
e uma translúcida garrafa de água babujada pelo meio

em sua porta entreaberta
um poema grita num pote
[hermeticamente fechado]
conservas de amor:

estalac-ti-tes
estalag-mi-tes

e um ai.



2 comentários:

raquel disse...

é possível caminhar pelos dizeres como se eu caminhasse pela casa, cada canto, como uma câmera que me propõe a imagem, revelando-a no seu presente e na sua essência... Adorei

patricia mc quade disse...

obrigada pela visita e a leitura carinhosa, gata. bjo