4.1.09

prólogo 1 :: genealogia da moral :: friedrich nietzsche


nós, homens do conhecimento, não nos conhecemos; de nós mesmos somos desconhecidos - e não sem motivo. nunca nos procuramos: como poderia acontecer que um dia nos encontrássemos? com razão alguém disse: "onde estiver teu tesouro, estará também teu coração". nosso tesouro está onde estão as colméias do nosso conhecimento. estamos sempre a caminho delas, sendo por natureza criaturas aladas e coletoras do mel do espírito, tendo no coração apenas um propósito - levar algo "para casa". quanto ao mais da vida, as chamadas "vivências", qual de nós pode levá-las a sério? ou ter tempo para elas? nas experiências presentes, receio, estamos sempre "ausentes": nelas não temos nosso coração - para elas não temos ouvidos. antes, como alguém divinamente disperso e imerso em si, a quem os sinos acabam de estrondear no ouvido as doze batidas do meio-dia, e súbito acorda e se pergunta "o que foi que soou?", também "quem somos realmente?", e em seguida contamos, depois, como disse, as doze vibrantes batidas da nossa vivência, da nossa vida, nosso ser - ah! e contamos errado... pois continuamos necessariamente estranhos a nós mesmos, não nos compreendemos, temos que nos mal-entender, a nós se aplicará para sempre a frase: "cada qual é o mais distante de si mesmo" - para nós mesmos somos "homens do desconhecimento"...


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somente uma provocação ao pensamento ontológico de nietzsche que nos suscita, quer se queira ou não, o desejo de nos desvendar. quem sou eu? quem somos nós? de onde vêm esses valores morais que apreendemos socialmente e que acreditamos ser nossos? para que serve a moral? como ela acontece? a moral é uma característica inata do ser humano? você saberia se responder? 

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primeira leitura filosófica intensa do ano:

NIETZSCHE, Friedrich. genealogia da moral, uma polêmica. São Paulo: companhia da Letras, 2007.

2 comentários:

Maria Amélia disse...

Intensidade. Palavra de ordem pra mim este ano.

Também adorei te conhecer, Patrícia, muito mesmo.
:)

ana dundes disse...

esse texto me cai como uma luva... rs

Mas que luva é a que calço?
Beijo,
rs*