26.7.10

Os amorosos

*
de Jaime Sabines
(tradução livre :: patrícia mc quade)

Os amorosos calam.
O amor é o silêncio mais fino,
o mais temeroso, o mais insuportável.
Os amorosos buscam,
os amorosos são os que abandonam,
são os que mudam, os que esquecem.
Seu coração lhes diz que nunca vão encontrar,
não encontram, buscam.

Os amorosos andam como loucos
porque estão sós, sós, sós,
entregando-se, dando-se a cada momento,
chorando porque não salvam o amor.
Preocupa-lhes o amor. Os amorosos
vivem o dia, não podem fazer mais, não sabem.
Sempre estão indo,
Sempre, para alguma parte.
Esperam,
Não esperam nada, mas esperam.
Sabem que nunca vão encontrar.
O amor é a delonga perpétua,
sempre o passo seguinte, o outro, o outro.
Os amorosos são os insaciáveis,
Os que sempre – que bom! – vão estar sós.

Os amorosos são a hidra do conto.
Têm serpentes no lugar de braços.
As veias do pescoço se incham
também como serpentes para asfixiá-los.
Os amorosos não podem dormir
porque se dormem lhes comem os vermes.

Na escuridão abrem os olhos
E lhes sobressalta o espanto.

Encontram escorpiões debaixo do lençol
E sua cama flutua sobre um lago.

Os amorosos são loucos, só loucos,
sem Deus e sem diabo.

Os amorosos saem de suas covas
temerosos, famintos,
para caçar fantasmas.
Riem das pessoas que sabem de tudo,
das que amam o perene, verídicamente,
das que acreditam no amor como uma lâmpada de inesgotável azeite.

Os amorosos brincam de agarrar água,
de tatuar fumaça, de não se ir.
Jogam faz tempo, o triste jogo do amor.
Ninguém há de resignar-se.
Dizem que ninguém há de resignar-se.
Os amorosos se envergonham de toda conformidade.

Vazios, mas vazios de uma a outra costela,
a morte lhes fermenta atrás dos olhos,
E eles caminham, choram até a madrugada
quando trens e galos se despedem dolorosamente.

Sentem às vezes um cheiro de terra recém nascida,
de mulheres que dormem com a mão no sexo, gozosas
de córregos de água carinhosa e de cozinhas.
Os amorosos cantam entre lábios
uma canção não aprendida,
e se vão chorando, chorando,
a formosa vida.

***

para ler o poema em espanhol, acesse lobos y cabritos :: de gabriela carrión

***

2 comentários:

Gabriela disse...

Al final, el video que te dejé no tiene esas palabras de Sabines que tanto me gustan.

(casi sollozando)
"hay aplausos que lo lastiman a uno"


una belleza de sensibilidad

leo gonçalves disse...

que bonito!
isso me lembrou um poema do d. h. lawrence:

"aqueles que saem à procura do amor
somente mostram seu próprio desamor,
os sem amor nunca encontram o amor,
somente os amorosos encontram o amor,
e eles nunca têm de procurá-lo.

beijos,