12.7.10

Aranhas

*
eduardo galeano
(tradução livre :: patrícia mc quade)

Passinho a passo, fio após fio, o aranho se aproxima da aranha.

Oferece-lhe música, transformando a teia em harpa, e dança para ela, enquanto pouquinho a pouco vai acariciando, até o desmaio, seu corpo de veludo.

Então, antes de abraçá-la com seus oito braços, o aranho envolve a aranha na teia e a amarra bem amarrada. Se não a amarra, ela o devora depois do amor.

O aranho não gosta nada desse costume da aranha, de modo que ama e foge antes de que a prisioneira acorde e exija o serviço completo de cama e comida.

Quem entende o aranho? Ele poderia amar sem morrer, teve a manha de cumprir essa façanha, e agora que está a salvo de sua sanha, sente saudade da aranha.

***

bibliografia: GALEANO, Eduardo. Bocas del tiempo. Buenos Aires : Catálogos, 2004, p. 18.

***

6 comentários:

Anônimo disse...

Ela é mansa...
Não devora, degusta.
Ela é mansa...
Não exige, pede.
Ela é mansa...
frágil,
medrosa,
sensível.
Não carece de tanta trama, teia e amarração.
Ela é mansa.

patricia mc quade disse...

será?
;)

Anônimo disse...

Será.
Ela é mansa.

patricia mc quade disse...

então, tá!

Julieta Sueldo Boedo disse...

Adorei!

Unknown disse...

Adorei, mas o aranho poderia sim deixar dar uma mordidinha só. não dói, dói?