3.4.10

no tempo de Magdala

*
(embalos de uma sexta-feira santa)

O tempo passou a ser contado adiante e o coração de deus já não é mais que pedra lascada.

Foi quando o filho do homem, codificado no mistério dos deuses, impediu que outros homens atirassem seus corações pontiagudos em Maria de Magdala.

"Vai e não peques mais."

Ouviu Madalena, como ficou outrora conhecida, e deixou-se ser salva liberando para o mundo 7 dos 13 demônios de Lilith.

Isso aconteceu no anteontem da história. Marco fundador: um tempo que corria de trás pra frente e passou a seguir só e adiante.

Juntos os 13 demônios hoje seguem vadiando no mundo dos humanos, brincando nas madrugadas entre os cabelos das Marias noturnas e o gozar dos suspiros diurnos de Josés.

Os demônios vivem enquanto durar a sedução no embaraço das madeixas lascivas e a presunção do canto forte dos falos.

Uma vez ao ano esses demônios resignam seus afazeres, e em vários pontos da Terra vagueia a mais morna monotonia e o sono dos desapetecidos se alheia ao desejo da carne rubra de Maria de Magdala por Jesus de Nazané na sexta-feira santa.

E a ocasião se repete:
Madalena lava com lágrimas os pés de seu Amor
e enxuga-os com seus cabelos enternecidos.

— Sabe ela da Paixão de Cristo? —

Mas nos dias que não são santos, esses demônios vivem seus dias de euforia e a roda do tempo passa a girar mais preguiçosa, para que uma noite dê aos possuídos a sensação da eternidade.

E as estrelas estremecem
com o rufar dos lençóis em bis ritmado
que ecoa nos quatro cantos da Terra:

madeixa com madeixa
falo com falo
madeixa com falo.


Não há mais humanos nem deuses a serem salvos.

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