

Páginas Amarelas é inspirado na obra do quadrinhista português José Carlos Fernandes, autor da premiada série
dois anos de experimentações e muito trabalho resultaram em um maravilhoso espetáculo cheio de recursos cênicos interessantes que vai desde a composição do cenário móvel que apresenta o universo imagético dos quadrinhos, até a propriamente dita linguagem corporal minuciosamente trabalhada em uma simetria do descompasso entre as personagens, em uma intrigante relação rítmica desarmônica existente entre elas. o texto teatral contribui para intensificar esse efeito das controvérsias existentes nas relações humanas e na insistência de se tentar alcançar o sonho da sinfônica harmonia aos tropeços, mesmo depois de 29 anos de fracassos. o conjunto estabelecido entre a linguagem corporal e a verbal suscita a ironia que tem como limiar a melancolia da vida rotineira das personagens e o humor, muitas vezes negro, que caricatura a falta de comunicação entre elas.
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o espaço ficcional retratado no cenário e atuado pelas personagens não tem nome, ficou no esquecimento das páginas amareladas pelo tempo. neste lugar de ninguém, as personagens estão aprisionadas em um cotidiano de repetições, fracassos e incomunicabilidade. há 29 anos ensaiam uma sinfonia que nunca foi apresentada em público, em um constante desafino comum a todos os integrantes e seus instrumentos, e mesmo assim continuam persistindo na eterna derrota de suas falsas convicções. os diálogos absurdos que estabelecem desvelam discussões onde cada um fala consigo mesmo ainda que se dirigindo ao outro – o jogo e a dança, assim como a linguagem verbal, tem um importante sentido icônico neste caso. a solidão também é uma figura flagrada que paira na densa atmosfera que circunscreve estas personas anônimas, de profissões sem fundamentos, de raciocínios sem compêndios de lógica, de preocupações sociais infindáveis e inverossímeis.
a peça toca, através de sua prática artística, em uma questão muito atual: a crítica das chamadas fronteiras culturais e suas relações criativas possíveis, neste caso, a troca cultural entre brasil / portugal e o diálogo entre artes cênicas / história em quadrinhos. além da crítica a nossa sociedade que já foi citada acima.
a equipe é composta por: Camila Morena, Diego Azambuja, Giselle Nirenberg, Kenia Dias, Ludmilla Valejo, Mariana Botelho, Tatiana Bittar e Thiago Sabino.
quem não viu, perdeu. quem viu, ganhou de presente um belo espetáculo cênico em todos os sentidos que a palavra possa significar: de experienciação que combina arte e vida.
Um comentário:
Patricia, é uma honra poder ler este texto. Tocou a todos do grupo. É bom saber que a peça lhe chegou desta forma!
Obrigada pelo enorme presente!
Companhia B de Teatro
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