28.4.09

:: blog :: boca no trombone :: alê peixoto ::

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Amigas, amigos, leitores do blog e ainda os não-leitores.

Estou aqui para um desabafo.
Para quem não me conhece, um breve resumo da minha trajetória de vida:
nasci no subúrbio do Rio de Janeiro, numa família pobre. Estudei minha vida inteira em escola pública. Dei sorte de estudar no Pedro II, é verdade. Mas o fato é que minha família não tinha a menor condição de nos dar uma educação particular. E os perrengues eram parte do dia-a-dia. Lembro que um dia um circo chegou no bairro, um circo daqueles bem pobrezinhos, e corri para pedir dinheiro para a Zezé, minha mãe. Nossa, eu chorava de um lado, porque não acreditava que ela não tinha dinheiro para que eu pudesse ver os palhaços e ela chorava porque não acreditava que estava negando isso às suas filhas. Era fato, não tinha dinheiro.
Me lembro da primeira passeata que fui. Eu tinha 8 anos. Lembro de ver a Glória Maria (embora muito tempo depois tenha descoberto que ela não estava orientada a cobrir o evento de forma imparcial). A passeata, a primeira de minha vida foi o comício das Diretas Já. Minha mãe fazia cabides de crianças e pegou dois fios verde e amarelo e nos enfeitou a juba. Me lembro da Zezé emocionada e meus braços arrepiados com toda aquela gente.
Lembro dela votando no Brizola, no Darcy, quase sempre no PDT. Ela sempre foi esquerdinha, essa Zezé. E teve a morte do Tancredo. Foi um velório lá em casa.
Bem, posso ficar contando aqui muita coisa. Mas o fato é que minha história de vida é a mesma da maioria das pessoas desse Brasil. Sofrida, cheia de adversidades.

A questão é: o que isso tudo tem a ver com o blog?

Muitas pessoas já me perguntaram o por quê de tanta dedicação ao Boca no Trombone.
Sim, eu dedico muito tempo, tempo até demais, a esse projeto. Porque eu acredito que nós, cidadãos, temos um poder que não sabemos. Ou se sabemos, não usamos. Simplesmente não exercemos plenamente nossa cidadania. Nos conformamos apenas, na maioria dos casos, em sermos consumidores passivos, observadores apáticos e eleitores distraídos. Estamos desmobilizados, inertes. Nem sequer percebemos que todos os dias estamos sendo manipulados, via jornais e telejornais. E isso me incomoda, muito mesmo. Porque quando vejo os gregos quebrando tudo por causa da morte de um único jovem pela polícia, penso: por que isso não acontece no Brasil? Por que somos tão apáticos, tão passivos? Mino Carta já disse que temos ainda, no nosso lombo e na nossa alma, a marca do chicote.
Mas até quando vamos permitir a essa elite esse domínio, esse controle de nossa riqueza, produzida com o suor de nossos pais, avós e filhos? Até quando vamos permitir essa corrupção generalizada e esse pacto dos potentes? Até quando vamos nos conformar em sermos chicoteados numa plataforma de trem?

Eu não concordo com as pautas dos jornais, eu não acredito na cobertura do Jornal Nacional, eu não uso a Veja nem pra limpar minha bunda, caso faltasse um papel higiênico. Ainda bem que chegou a internet e ainda bem que eu consigo peneirar o que é jornalismo confiável. Tem muita gente boa, muitos jornalistas que divergem horrores entre si, mas que a gente pode confiar que não vão manipular os fatos, não vão distorcer a verdade. E simplesmente, é isso que que desejo. O fato. A verdade. Os dois lados da moeda. Sempre. Infelizmente essa ferramenta não chega ainda ao povão, de forma barata e com qualidade. E quando chega a galera está mais interessada em sites de relacionamento e de fofocas do que realmente em aproveitar todo o potencial que esse trem tem. Mas isso está mudando. Até o Lula vai ter um blog. Depois do Obama, até o nosso presidente percebeu o poder da internet. Por isso tem aquele senador do PSDB, o Eduardo Azeredo, o pai do mensalão. Ele quer passar uma lei que vai controlar absurdamente o acesso à internet. Porque ele sabe, e as empresas que ele representa sabem o poder que esse troço tem. Eles acham que irão conseguir. Não irão. Não se daqui pra frente nos mobilizarmos para impedir esse controle. Porque essa ferramenta, a internet, ela é DEMOCRÁTICA, sacou? Ela nos conecta com o mundo!

Partindo desse princípio, o Boca no Trombone se transformou na minha válvula de escape, no meu prozac. Que televisão que nada, aquele monólogo colorido que não deixa as pessoas conversarem. Eu quero é me expressar, mesmo que aqui não tenha muitos textos meus (porque sou preguiçosa pra escrever). E o jeito que encontrei de militar foi esse: divulgar textos, temas, assuntos e pautas que não tem espaço na grande mídia, esta que atende exclusivamente aos seus próprios interesses e aos de seus patrocinadores. Porque não interessa aos potentes que o povo se informe, que o povo saiba da verdade, nua e crua. Não, o que essa mídia faz é nos distrair. Que o povo se contente com as novelas e programas policiais enquanto estamos aqui a dividir o bolo grande, a bufunfa.

Sei que pego pesado nos temas aqui. Mas de amenidades o inferno já está cheio. Quero mais é botar fogo mesmo. Quero mais é que esses textos cheguem até vocês e que vocês, leitores, fiquem putos. Quero também mostrar o que de bom e positivo nosso povo tem feito para driblar as dificuldades. Eita povo criativo, sô.

Sempre que alguma idéia nova surge, alguma tecnologia social que aparece para melhorar a vida das pessoas, eu trago aqui pra vocês. Não tudo, porque não consigo saber de tudo, mas tô na busca. Na busca por um mundo melhor, não só pra mim, mas pra todos. Pros nossos filhos, netos, sobrinhos e todas as gerações futuras. Temos de deixar de ser egoístas e pensar que não temos um legado a deixar. E nosso legado pode ser pura destruição ou poder ser algo mais bonito, cheiroso, respirável, bebível, saudável.

E é nessa tecla que baterei incansavelmente: outro mundo é possível e o capitalismo, em profunda crise, está mais que na hora de morrer para dar a vez a outras possibilidades e definitivamente elas terão de incluir o bem-estar, a justiça, a igualdade e a sustentabilidade.

Por isso não abandonarei nunca esse jeito eco-chato de ser, porque, infelizmente, não temos outra saída. A saída é consumir menos, de forma consciente, pensando em cada resíduo produzido por nós. A saída é pensar coletivamente, e não individualmente. A saída é exigir uma democracia de verdade. É botar a boca no trombone, bater panela, ir para as ruas, exigir um governo do povo, pelo povo e para o povo. A saída é se informar mais e melhor, é desligar a TV, é cultivar a diversidade e o ouvir. É olhar para os lados, pra trás e pra frente e deixar de olhar exclusivamente para o próprio umbigo.

O Blog Boca no Trombone é para isso: uma ferramenta para os curiosos e inquietos que acreditam no saber e na informação como forma de revolução.

É isso, quem gosta do blog, por favor, ajude a divulgar. Uma vez no blog, a possibilidade de achar um sem número de sites e blogs legais é infinita.

Um grande abraço,
Alê

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salve alê!

fica aqui minha dica de leituras políticas que se fazem revolução:


depois dessa lavada, vou procurar me informar mais. é isso! façam o mesmo.

Um comentário:

Maria Amélia disse...

Patrícia, estou por aqui. Andei sumidinha, cheia de trabalhos,mas agora vou aliá-los à internet e tentar voltar para os meus esquecidos posts. Saudade de você, eu e o Thiago fomos no Le Crepe, até pensamos em te chamar, mas decidimos muito de última hora, não sabíamos nem se estaria em casa. Vamos marcar um dia lá, adoro aquele lugar. Seu bairro. Beijo!