"— Nós nem sabíamos que estávamos no mundo...
também a existir se aprende..."(Bradamante :: persongem feminina do livro)
também a existir se aprende..."(Bradamante :: persongem feminina do livro)
Esse livro de Ítalo Calvino conta as aventuras e desventuras de um cavaleiro de Carlos Magno que de tão perfeito e nobre, não existe. Ou não, existe por uma vontade que ultrapassa o estado físico da matéria, aquilo que compõe os corpos de todos nós, podres mortais. Uns dizem que a obra é um romance, outros que é uma fábula, mas isso pouco importa, o interessante é se deliciar com toda a trama de uma história fantástica que nos surpreende ao final do livro com as revelações que são feitas aos leitores.
Nesta obra o romance de cavalaria é contado às avessas, assim como Don Quijote de La Mancha. Ítalo Calvino nos faz rir, sonhar, nos deixa intrigados com acontecimentos e nos provoca emoções em cada capítulo do livro, principalmente depois da metade da leitura. Sua habilidade de construir um enredo que foge a toda e qualquer forma convencional, onde consegue transformar tudo em alegoria de uma forma interessante e humorística, nos faz rir de situações consideradas sérias: a burocracia do Estado, as relações de poder, as relações de amizade, o respeito absoluto por um soberano, as mazelas do amor e a magia de se sentir e estar de fato vivo nesse afã humano demasiadamente humano que nos condiciona sensações de fome, frio e dores, seja por ferimentos físicos ou por amor.
O protagonista é Agilulfo Emo Bertrandino dos Guildiverni e dos Altri de Corbentraz e Sura, o cavaleiro inexistente da corte de Carlos Magno. Ele serve com fé a causa da Cristandade de forma cega e rígida, cumpre todas as regras burocráticas do regimento à risca, é um cavaleiro muito competente nas batalhas, sua armadura alva e pura está sempre impecável, é um exemplo de cavaleiro levado à potência do absolutamente correto. Ao mesmo tempo ele sente pelos homens uma mistura de ressentimento, admiração e desdém por sua condição de seres humanos contraditórios, ineficientes e imperfeitos em matéria e espírito. Ao redor dele circulam vários personagens que os considero também protagonistas: Rambaldo, um jovem soldado que quer vingar a morte de seu pai e sonha em ser cavaleiro; Bradamante, uma mulher guerreira, a única amazonas do exército de Carlos Magno; Torrismundo, um rapaz que não vê sentido real naquele regimento militar e parte em busca de sua história que está vinculada aos cavaleiros do Santo Graal; e Gurdulu, o ser mais interessante de todo o livro, um mendigo que por ironia do destino se torna o escudeiro de Agilulfo, um ser inocente que está aberto a todos os estímulos positivos que encontra pelo caminho, às vezes se comporta como homem, outras como animal e até se confunde e pensa com um ser inanimado, um simples componente da paisagem.
A trama parte da questão que se coloca em um banquete sobre a autenticidade do título de Cavaleiro concedida a Agilulfo, o cavaleiro inexistente, e também de sua nobre reputação. Ítalo Calvino nos proporciona um mergulho nos tempos heróicos da cavalaria medieval, de forma burlesca e ao mesmo tempo crítica. Utiliza como narrador uma freira confinada no convento, cuja penitência é justamente escrever a história desse cavaleiro 'sui generis'. É ela, a freira, quem nos leva a um desfecho da narrativa surpreendente.
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A partir desse livro estou conseguindo trabalhar com meus alunos de 12 e 13 anos da Escola da Serra todos os elementos de uma narrativa: construção dos personagens, o papel do narrador, o espaço e o tempo ficcional, a trama e o clímax da história, linguagem da narração e metalinguagem, além de levá-los a uma leitura mais subjetiva estabelecendo um diálogo entre literatura e vida.
Vale a pena ler essa obra assim como os outros títulos da trilogia: O visconde partido ao meio e O barão das árvores.
bibliografia:
CALVINO,Ítalo. O cavaleiro inexistente. Companhia das Letras: São Paulo, 2004.
CALVINO,Ítalo. O cavaleiro inexistente. Companhia das Letras: São Paulo, 2004.
Um comentário:
Gostei do resumo.. (:
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