18.3.10

Cerejeiras em Flor :: Hanami

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Quem me conhece sabe como eu adoro histórias de amor e também sabe como já me desmanchei em cachoeiras de Oxum com diversos filmes que tocaram nesta minha ferida aberta. Muitos filmes me marcaram profundamente e eu os guardo na memória do meu recordo. Cerejeiras em flor é de fato uma excessão à regra. Não que ele não seja uma história de amor, ele é. Não que ele não tenha tocado na minha sensibilidade ultra-sensível, ele tocou. Digamos que até demais. Ele não marcou só o coração. Ele é uma excessão porque fez transbordar do meu corpo aquilo que chamamos alma, a ponto dela vazar pelos olhos. Sim, por causa do filme eu não chorei simplismente lágrimas, eu chorei alma. E esse quadro me acompanhou o filme inteiro e ainda precisei de mais meia hora, depois de seu final, para conter os excessos de alma que não paravam mais de me transbordar, de me inundar em mim.
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Dessa vez eu não vou me demorar fazendo análises semióticas do filme, pois tudo aquilo que mexe comigo de uma maneira muito particular é de difícil interpretação para mim. Diria que é indizível. Nesse caso eu prefiro guardar a experiência do apenas sentir, sem explicação. E indicar para que veja quem ainda não viu.
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O filme, inspirado no balé japonês butoh, possui uma elegância refinada, o prazer de uma tranqüilidade na narrativa e uma simplicidade na produção que pode ser verificada na apresentação dos movimentos de suas cenas. Talvez isso seja de difícil compreensão para o pensamento ocidentalizado, exageradamente tecnotizado por estímulos audio-visuais e por tão arrojados efeitos mega-especiais. Talvez por isso várias críticas destrutivas sobre o filme soaram para mim como que carregadas de preconceitos e apresentando uma visão sobre o cinema formatada pelos moldes hollywoodianos da industria cinematográfica.
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A base na arte japonesa é o diferencial de Cerejeiras em flor, pois configura o mundo no que é essencial: as relações humanas e as pequenas sutilezas da vida! A harmonia coabita com a serenidade dos sentimentos mais contraditórios: a serenidade diante da vida, a serenidade diante da morte. Isso em contrapartida com a velocidade e a ferocidade do nosso mundo pós-moderno. E é exatamente nesta serenidade e na ausência de violência sanguinária ou de cenas erotizadas que o filme nos surpreende de forma cruel, — como aquela crueldade que só Artaud sabe explicar — pois abre nossos olhos do sonho da realidade para que de fato possamos ver. Ver melhor!


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::.. Ficha Técnica ..::
Título Original: Kirschbluten - Hanami.
Origem:
Alemanha / França, 2008.
Direção e roteiro:
Doris Dorrie.
Produção: Harald Kugler e Molly Von Furstenberg.
Fotografia:
Hanno Lentz.
Música: Claus Bantzer.


site oficial do filme:
http://www.kirschblueten-film.de/

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