1964 / Jorge Luis Borges
(tradução livre :: patrícia mc quade)
(tradução livre :: patrícia mc quade)
I
Já não é mágico o mundo. Abandonaram você
Já não compartilhará a clara lua
nem os lentos jardins. Já não há uma
lua que não seja espelho do passado,
cristal de solidão, sol de agonias.
Adeus as mutuas mãos e as têmporas
que aproximava o amor. Hoje você só tem
a fiel memória e os desertos dias.
Ninguém perde (repete você em vão)
senão algo que não tem nem teve
nunca, contudo não basta ser valente
para aprender a arte do esquecimento.
Um símbolo, uma rosa, se lhe desgarra
E pode matar você uma guitarra.
II
Já não serei feliz. Talvez não importa.
Há tantas outras coisas no mundo;
um instante qualquer é mais profundo
e diverso que o mar. A vida é curta
e ainda que as horas sejam tão longas, uma
escura maravilha nos espía,
A morte, esse outro mar, essa outra flecha
que nos livra do sol e da lua
e do amor. A sorte que você me deu
e me tomou deve ser apagada;
o que era tudo tem que ser nada.
Só me resta o gozo de estar triste,
esse vão costume que me inclina
ao sul, a certa porta, a certa esquina.
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