25.6.10

nenhuma verdade sobre mim

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(foto de :: Alessandro Bavari)

não existe nenhuma verdade em mim. a mentira é a minha maquiagem preferida. a falsidade brilha em meus olhos e lábios revelada no reflexo do espelho de todos os olhos que me olham. minha roupa é a fraude de minha ideologia franco-anárquica. as pessoas que beijei são pura afirmação contrária de minha verdade que não existe a fim de induzir-me a mais e mais erros sem fim. meu sexo é enganador, ilude quem o toca. quem se aproxima de mim também não é real, apenas na aparência pensa que me conhece e nesta busca em constância transforma-me em ilusão, fábula, ficção de uma história onde perdura tudo o que é fugaz. meus vícios são lascivos, costumes supérfluos, prejudiciais e totalmente censuráveis, são erros contra as regras da linguagem ou de um outro saber de corporeidade imperfeita. a cidade onde habito também habita em mim de forma desorganizada e caótica. sou um pequeno pastel desprovido de recheio, uma mentirinha de pão-de-ló labiríntica que perturba quem por mim se envereda na busca de meu reconhecimento e nada encontra a não ser muros de pedras despedaçadas de minhas vivências decadentes. meu crime contra a fé pública consiste na alteração intencional da verdade com o intuito de profanar o sagrado e o eterno. invento perguntas das quais não busco respostas. e nessa falta de autenticidade está a minha obra maior: reinvento o amor nietzschiano, o pragmatismo amoroso de uma pluralidade inesgotável e frequentemente contraditória que se revela inútil aos interesses da humanidade em geral.

sou a deusa da criação de todas as coisas que não valem a pena no papel.

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se me decifras
eu te devoro!

(a esfinge fingida)

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