como diz Renato :: Um gostinho do livro
Vida em branco e preto - trecho - Dia
Caminhava em meio ao cheiro acre das ruas, sozinho por entre a gente, moendo-se e remoendo-me a todo o tempo, nada passava por sua cabeça senão aquele caminha, já rotinado, pelo qual andara e desandara inúmeras vezes e todas as outras coisas em que podia pensar. Esquecera-se, há muito, de olhar, passava os olhos por tudo o que o rodeava e não via nada além dos lítotes da vida, todas as dições e contradições que o encaravam. Perguntava-se por que, se em nada fixava a vista, mantinha-a aberta. Tentava fechá-la, tentara várias vezes durante o dia todo, todos os dias, porém sentia-se incapaz de fazê-lo, abléfaro. Nada escutava, ouvia apenas um ruído ao fundo, junto de meu chão, há anos a ruir sob meus pés, das pessoas inesgotáveis, sempre lho pareceram, fazendo seu trabalho inesgotável e passarem por nós, esgotados, desgostados, desgostosos. Nada lhe restava em mãos além de sua desvida, que apassara entre os cinco minutos de cada cigarro, único querer que nos era possível e, conseqüentemente, comum.
[...]
Nenhum comentário:
Postar um comentário