30.10.08

arande gróvore :: grupo galpão

quem poderia supor que a campanha do Grupo Galpão em pedir bicicletas velhas para a comunidade dos arredores do Cine Horto, sucatas com ou sem rodas, resultaria em elementos cênicos tão interessantes como os apresentados no espetáculo Arande Gróvore. “os rodantes”, veículos feitos com os restos dessas bicicletas velhas, foram criados com maestria por Helvécio Isabel. em minhas inocentes convicções, achei que elas seriam usadas como peças de um cenário, simples artefatos cênicos, ou coisa parecida. elas, as bicicletas – ou melhor dizendo: eles, “os rodantes” – conseguiram nesse espetáculo se transformar em parte integrante das próprias personagens, extensões de seus corpos estranhos e atrativos e que, ao mesmo tempo, ajudaram a provocar imagens ilusionárias nos vários públicos que compareceram nas apresentações em diferentes cidades desde agosto deste ano: belo horizonte, mariana, brumadinho, são joão del rey, diamantina, entre outras.

o cenário? uma árvore em uma praça ou em um parque qualquer. qual árvore? pode ser qualquer uma: um ingazeiro, uma amendoeira, um coqueiro, um pau ferro. o resto dos artefatos cênicos são carregados na garupa dos rodantes guiados pelas personagens da peça.

como nos contos populares compilados por câmara cascudo e silvio romero – como relata a diretora inês peixoto – ou nas versões literárias de Fábulas Italianas, de ítalo calvino, a construção de Arande Gróvore segue uma tradição dentro de sua narrativa mágica: uma família pobre de quatro irmãs camponesas, com uma mãe provedora das necessidades básicas da sobrevivência das filhas, encontram uma grande árvore que dá um fruto mágico que pertence a uma fera encantada. daí os elementos mágicos se multiplicam: olhos, maldições, fera, heroína, príncipe, belos vestidos, quebra de um acordo, missão, viagem, obstáculos, perigos, seres míticos, objetos mágicos, cura, recompensa. tudo se transmuta em uma aventura de descobertas e crescimento. a heroína passa assim de uma inocência à experiência, de uma infantilidade aos desejos femininos de amante de um príncipe encantado em fera.

a linguagem é primorosa e essencialmente afetiva. a peça é toda encenada em uma língua inventada chamada por seus criadores de “gromelô”. isso não se torna em uma dificuldade de compreensão absolutamente, o público passa a entender tudo o que os personagens falam a medida que vão se familiarizando com a história e a linguagem cênica de gestos e objetos simbólicos.

os efeitos? mínimos, apenas os mais simples, aqueles que concretizam a força vital de natureza holística e imaterial do espetáculo. os recursos? apenas aqueles que provém do organismo vivo e pulsante do ator. a magia é a poderosa presença do ator que conduz as pessoas que assistem ao mundo fantástico dos contos de fadas. as personagens? parecem ter fugido do universo encantado dos contos universais para o mundo real a fim de contar essa história. elas podem perfeitamente pertencer aos contos portugueses, espanhóis ou ciganos, podem até ter saído das histórias das mil e uma noites da bela sherazade. são personagens arquetípicas, aquelas compartilhadas por toda a humanidade, evidenciáveis nos mitos e lendas de vários povos ou no imaginário individual de cada um.

enfim, o espetáculo Arande Gróvore possui uma estética cênica refinada e de grande imaginatividade, faz pulsar o mundo sensível de nossa natureza transcendente, traz de volta a tradição oral dos contos populares para a nossa realidade imaterial, nos aproxima de nossa herança cultural, da qual compartilhamos com toda a humanidade.




O espetáculo faz parte do projeto "Pé na Rua" e conta com a arte de seis atores formados nos oficinões do Grupo Galpão: Dora Sá, Gisele Milagres, Luciana Bahia, Maíra Cesarino, Marcelo Cordeiro e Suana Santos; dramaturgia de Paulo André; direção de Inês Peixoto e Laura Bastos; e trilha sonora de Fernando Muzzi.

24.10.08

mais outro video poema



poema passageiro de chacal
que está participando da amostra sesc artes 2008.

22.10.08

ensaio sobre a cegueira :: filme de fernando meireles

“Se podes olhar, veja. Se podes ver, repara."

(epígrafe do livro Ensaio sobre a cegueira de Saramago)

é engraçado conhecer como aconteceu toda a idéia de adaptar o livro Ensaio sobre a cegueira através dos relatos do próprio diretor. tudo começou entre uma leitura apaixonada de Fernando Meireles e um não seco de José Saramago em vender os direitos autorais do livro para uma versão cinematográfica: “cinema destrói a imaginação?”, aqui fica um ponto de interrogação.

por causa desse “não” veio a compra dos direitos autorais de Cidade de Deus, o célebre e clássico filme do cinema brasileiro. depois de anos de trabalhos bem sucedidos, e não menos sofridos, o mesmo diretor recebe a proposta de um produtor canadense para dirigir a versão de um filme, nada mais nada menos que o famigerado livro do autor do “não” amargo: José Saramago. coincidências acontecem? sei não! talvez não, para não perder a poesia do destino. acho que algumas coisas devem estar escritas nas estrelas do céu ou do inferno. o título do roteiro era Blindness, o Ensaio Sobre a Cegueira.

a produção foi coletiva: José Saramago, autor português da idéia original do livro; Don McKellar , autor do roteiro; Niv Fichman, produtor canadense; Fernando Meireles, diretor brasileiro; Sonoko Sakai, produtora japonesa responsável por 60% do investimento financeiro; Potboiller, a produtora inglesa do Jardineiro Fiel, responsável pela parte de contratos e negociações; Andrea Barata Ribeiro e a Bel Berlinck, como as produtoras do Brasil. time essencialmente cosmopolita. cenas do filme foram filmadas inicialmente no Canadá, depois em Montevidéu e por fim em São Paulo.

um encontro com Saramago em um restaurante em Portugal faz dissolver toda a má impressão do não inicial impactante e Fernando Meireles é tratado de forma amável pelo escritor. esse fato rendeu ao diretor um sentimento de que o filme deveria suprir todas as expectativas de Saramago, tarefa difícil ao se pensar nas exigências estéticas desse autor de imagens fortes construídas com palavras, e também na dificuldade que há em se fazer uma boa versão de um clássico da literatura universal – sabemos que muitos filmes desse naipe ficam aos pés dos livros.

isso definitivamente não ocorreu com esse filme de produção brasileira e canadense que goza de estrondoso sucesso. adaptação de obra literária para o cinema sempre foi e será polêmica entre os amantes tanto da literatura como do cinema, sem pensar nos que amam apaixonadamente as duas artes, como eu.


nas telas, o mundo branco da cegueira é transmitida pelos projetores das salas de cinema e nosso tão conhecido mundo urbano se esvai no branco do tempo, do espaço, da história dos personagens e até no branco de seus nomes. não se sabe ao certo quando, onde, como, porque e quem estava ali quando a cegueira coletiva aconteceu. o filme conseguiu a proeza de acompanhar a temática da obra literária sem se prender necessariamente a ela. questiona os valores e a moral humana, a ética nas inter-relações pessoais e incomoda o espectador que não consegue se posicionar diante do filme como um simples observador da narrativa que se constrói diante de seus olhos. a ironia sutil, porém nefasta, reside em cada personagem que se constrói e o espectador parece reconhecê-los sem conseguir admitir hipoteticamente o que virá a seguir.

de acordo com o diretor, o filme se divide como no teatro, em três atos: o primeiro apresenta os personagens se deparando com a cegueira pura e crua, sem explicação, pouco a pouco no tempo da narrativa, mas em um ritmo acelerado em tempo cronológico para o espectador, que acompanha com assombro e condoído o sofrimento e a agonia dos personagens, assim como acompanha o que irá acontecer dali para frente. esse efeito acontece ainda que o espectador saiba de forma premeditada o enredo da história.

no segundo ato os personagens se encontram no asilo, onde os cegos são abandonados à própria sorte e morte. recursos de filmagens com imagens distorcidas, opacas, nebulosas ou abstratas, provocam o efeito de aflição naqueles que assistem e daqueles personagens que de uma hora para a outra romperam a linha tênue entre a civilização e o caos, sem, contudo explorar cenas pesadas de violência, como por exemplo, o estupro das mulheres da ala 1 pelos devassos da ala 3 que se apoderam de toda comida do asilo e se propõem vendê-la por sexo.

essas cenas são fortes para o espectador que as acompanha, cala a nossa alma diante das vozes violentas dos agressores. a câmera sobe. fica o clima tenso e cruel do estupro e da morte pairando no ar. contudo, apesar de tudo isso ser muito mais que sugerido, não é o foco do filme. o objetivo é apresentar para quem assiste como a força súbita do poder indiscriminado se faz sentir com uma intensidade destruidora, como a fúria e a veemência da coação resulta cruel e egoísta subjugando o direito do outro, como o constrangimento físico e moral pode obrigar pessoas a se submeterem à vontade de outrem; enfim, como as relações de poder autoritário acontecem coagindo o oprimido que luta para sobreviver.

já no terceiro ato, quando os cegos conseguem finalmente fugir do asilo e encontram toda a população restante imersa na cegueira absoluta, no caos do abandono e do vandalismo mostrando o lado animal do ser humano, começam a construir o retorno de si mesmos ao estado primordial de seres humanos, reconstroem sua reabilitação moral e a reestruturação de suas vidas socialmente, humanamente, só ai eles voltam a enxergar.

tudo termina enfim bem? depois da cegueira coletiva os seres humanos se tornarão mais humanos? e o resto dos cegos do asilo, o que aconteceu com eles? um filme não precisa responder a todas as perguntas do espectador. o final não é absolutamente um final feliz porque os personagens centrais voltaram a enxergar e compartilham momentos de paz e prazer. os problemas da cegueira humana dita metafórica ainda não foi solucionada. o filme não é uma obra fechada e circunscrita em si mesma. o diretor deixa algo a se pensar em suspenso. ainda tem muita coisa a ser imaginada sobre o filme. o diretor passa a narração para o espectador. que façamos então a nossa parte!

apesar de o filme tratar de uma enfermidade patológica, ele toca no aspecto sócio-político da cegueira metafórica em que vivemos. convida o espectador a refletir sobre sua própria cegueira carregada de imagens virtuais de ordem superficialmente estética, sem nos darmos conta da essência de quem somos enquanto seres humanos e de nossa atual superestrutura política e social ao qual estamos sempre sendo condicionados e controlados.

para tanto, Fernando Meirelles lavra a imaginação do espectador como um agricultor lavra a terra: limpa seu campo de visão viciado pela superficialidade, aduba as emoções sem extrapolar os recursos técnicos de gosto mercadológico da violência cinematográfica escancarada e cultiva a auto-reflexão sobre nossa condição de estar no mundo. se vale, então, de uma equipe forte: excelentes atores como Julianne Moore, Alice Braga, Gael García Bernal, Ysuke Iseya, Yoshino Kimura, Danny Glover, Mark Ruffalo e Don McKellar; uma fotografia primorosa e trilha sonora que se encaixou perfeitamente à atmosfera do filme criada pelo grupo Uakti.

preciso dizer mais alguma coisa?


19.10.08

outro video poema



poema passageiro de leo gonçalves
que está participando da amostra sesc artes 2008.

Páginas Amarelas :: Companhia B de Teatro

assisti, dia 09/10 no galpão cine horto, ao espetáculo Páginas Amarelas, encenado pela Companhia B de Teatro, da universidade de brasília. esse espetáculo participa do projeto “galpão convida”, que possibilita ao público mineiro ver peças e experimentações teatrais de outras partes do brasil e também de outros países.

Páginas Amarelas é inspirado na obra do quadrinhista português José Carlos Fernandes, autor da premiada série em quadrinhos A Pior Banda do Mundo, que já soma um total de cinco volumes sendo três deles lançados no brasil.

este espetáculo é conseqüência de uma pesquisa empreendida por esse grupo em fazer dialogar as diversas linguagens criativas que, neste caso, é a linguagem teatro enquanto presentificação corporal e as histórias em quadrinhos.

dois anos de experimentações e muito trabalho resultaram em um maravilhoso espetáculo cheio de recursos cênicos interessantes que vai desde a composição do cenário móvel que apresenta o universo imagético dos quadrinhos, até a propriamente dita linguagem corporal minuciosamente trabalhada em uma simetria do descompasso entre as personagens, em uma intrigante relação rítmica desarmônica existente entre elas. o texto teatral contribui para intensificar esse efeito das controvérsias existentes nas relações humanas e na insistência de se tentar alcançar o sonho da sinfônica harmonia aos tropeços, mesmo depois de 29 anos de fracassos. o conjunto estabelecido entre a linguagem corporal e a verbal suscita a ironia que tem como limiar a melancolia da vida rotineira das personagens e o humor, muitas vezes negro, que caricatura a falta de comunicação entre elas.

o espaço ficcional retratado no cenário e atuado pelas personagens não tem nome, ficou no esquecimento das páginas amareladas pelo tempo. neste lugar de ninguém, as personagens estão aprisionadas em um cotidiano de repetições, fracassos e incomunicabilidade. há 29 anos ensaiam uma sinfonia que nunca foi apresentada em público, em um constante desafino comum a todos os integrantes e seus instrumentos, e mesmo assim continuam persistindo na eterna derrota de suas falsas convicções. os diálogos absurdos que estabelecem desvelam discussões onde cada um fala consigo mesmo ainda que se dirigindo ao outro – o jogo e a dança, assim como a linguagem verbal, tem um importante sentido icônico neste caso. a solidão também é uma figura flagrada que paira na densa atmosfera que circunscreve estas personas anônimas, de profissões sem fundamentos, de raciocínios sem compêndios de lógica, de preocupações sociais infindáveis e inverossímeis.

a peça toca, através de sua prática artística, em uma questão muito atual: a crítica das chamadas fronteiras culturais e suas relações criativas possíveis, neste caso, a troca cultural entre brasil / portugal e o diálogo entre artes cênicas / história em quadrinhos. além da crítica a nossa sociedade que já foi citada acima.

a equipe é composta por: Camila Morena, Diego Azambuja, Giselle Nirenberg, Kenia Dias, Ludmilla Valejo, Mariana Botelho, Tatiana Bittar e Thiago Sabino.

quem não viu, perdeu. quem viu, ganhou de presente um belo espetáculo cênico em todos os sentidos que a palavra possa significar: de experienciação que combina arte e vida.

18.10.08

video poema




poema passageiro de angélica freitas
que está participando da amostra sesc artes 2008.

6.10.08

canção do carcereiro, de jacques prévert

onde vai você meu carcereiro
com essa chave manchada de sangue
vou libertar aquela que eu amo
se é que ainda tenho tempo
e que eu mesmo aprisionei
ternamente cruelmente
no mais escondido do meu desejo
no mais profundo do meu tormento
nas mentiras do futuro
nas bobagens das minhas juras
eu quero libertá-la
quero que ela seja livre
e mesmo que ela me esqueça
e mesmo que ela se vá
e mesmo que ela volte
e que ainda me ame
ou que ame um outro
se um outro lhe agrada
e se eu ficar na solidão
e ela tiver ido embora
eu guardarei apenas
eu guardarei pra sempre
no côncavo das minhas duas mãos
até a minha última hora
a doçura dos seus seios modelados pelo amor

(tradução linda de leo gonçalves)

salamalandro

4.10.08

la maja vestida y la maja desnuda: goya

ninguém sabe afirmar com segurança quem foi a modelo e nem porque francisco goya fez dois quadros, la maja vestida e la maja desnuda. as opiniões se dividem em duas possíveis candidatas: a duquesa de Alba, María del Pilar Teresa Cayetana de Silva y Álvarez de Toledo (afff!), amiga mui íntima de goya, a quem retratou inúmeras vezes por encomenda, ou a amante de manuel godoy conhecida por Pepita Tudó.

godoy era um dos principais mecenas de goya, político importante que atuava junto à coroa espanhola, e quem, na opinião da amante, sentia um amor platônico pela rainha María Luísa de Parma que comandou a vida desse infeliz político como se maneja uma marionete condecorada de bufão.

as obras foram feitas entre 1790 e 1805 e conta-se que os quadros eram justapostos para impressionar a todos com o erotismo do pudico monte de vênus da modelo que se destaca em ambos os quadros - nota-se que as partes íntimas femeninas são mais evidentes no quadro da moça vestida do que naquele em que ela se encontra completamente nua.

estas obras viveram algumas peripécias antes de poderem ser contempladas no museu do prado em madrid: foram confiscadas em 1807 por Fernando VII, el deseado, rey da espanha (fazer o que com elas, nunca se soube!); e foram mais tarde raptadas pela inquisição e tachadas como "obsenas".

goya se livrou do inquérito por causa de estreitas relações com o cardeal luis maría de bourbon (uiiii!!!), e o quadro se livrou da fogueira. porém, ficou longe das vistas do público até início do séc. XX. tudo por causa da dita maldita sensualidade femenina que goya soube retratar com tanta destreza.


"à procura do Prazer sem interesse prático imediato é hoje o meu divertimento, é para mim uma necessidade vital.

francisco goya

2.10.08

"Candalia" :: grupo ALBATROZ


primeiro presente.
intervenção urbana

grupo albatroz em diálogo com os espaços da capital mineira

hoje, no final da labuta, fui informada através de um convite sobre a performance do grupo albatroz que aconteceria na praça da estação.

chegamos às portas da estação e três moças de branco esperavam por alguém exatamente no momento que antecede à chegada do trem Vitória-Minas, às 19:30h, nesta quarta-feira.

a primeira, chama constantemente por um passarinho, caminha nas pontas dos pés com uma sombrinha aberta e uma gaiola vazia, parece quase não tocar o chão ao correr.

a segunda, com um saco de maçãs verde-esperança na mão, conversa com pessoas que esperam por parentes e amigos, fala frases em francês e se parece a um personagem em branco e preto, pertencente a uma outra época, a do cinema mudo.

a terceira, diz a todos que está esperando um homem muito branco de olhos verdes como duas maçãs e traz uma pequenina sombrinha aberta em uma das mãos para se proteger inevitavelmente de algo.

mais dois homens de viola acompanham as moças observando a tudo, mas, por enquanto, calados de música.

quando o trem chega os cinco se dirigem simetricamente ao portão de desembarque, caminham enquanto cantam uma longa, lenta e melancólica canção para receberem os seus esperados.

os passageiros que descem do trem se deparam com as personagens que poderiam ter saído das páginas de um conto de virgínia wolff.

algumas bocas sorriem, outras tentam disfarçar a falta de graça misturada com surpresa, tem as que passam pelo saguão forçando a sensação de acharem tudo muito normal e desviam seus corpos dos corpos vidrados na canção de espera ainda entoada. há também aquelas que arriscam um beijinho em tchauzinho, e as que se assustam de verdade com a inesperada cena.

eu que tentei ver a quase tudo, não sabia se olhava para os rostos dos que chegavam ou dos que presentificavam a angustiosa canção de espera de quem não vem.

foi um verdadeiro presente esse convite-espera para mim.
não tenho palavras para dizer o que senti, então pinto as cenas aqui com minhas cores e meus pincéis.

a próxima apresentação será nesta quinta, dia 02/10, às 19:30h na praça da estação.

Dona de Castelo

segundo presente.
interpretação: adriana calcanhoto

Composição: Jards Macalé/ Waly Salomão

Amor perfeito
Amor quase perfeito
Amor de perdição paixão que cobre
Todo o meu pobre peito pela vida afora
Vou-me embora, embromadora
Você para mim agora
Passa como jogadora
Sem graça nem surpresa
Diga que perdi a cabeça
Seu eu me levantar da mesa e partir
Antes do final do jogo
Louco seria prosseguir essa partida
Peça falsa que se enraíza
E faz negro todo meu desejo pela vida afora
Vou-me embora, embromadora
E quando eu saltar de banda
E quanto eu saltar de lado
Vou desabar seu castelo de cartas marcadas
E tramas variadas
Sim
Seu castelo de baralho vai se desmanchar
Desmantelado
Decifrado
Sobre o borralho da sarjeta
Chegou o inverno !!!!!!

1.10.08

como aprender a pensar?

a maior habilidade humana que possuímos é a nossa incrível capacidade de aprender, de pensar, de refletir sobre o que nos é apresentado como conhecimento, de nos aperfeiçoar, de encontrar soluções para variados problemas nas condições mais diversas. a família e a escola são, sem dúvida, as principais responsáveis nessa tarefa de desenvolver a notável capacidade de pensar nas nossas crianças desde a mais tenra idade e devem estar aliadas nessa busca de levá-las pelos caminhos de conhecer o que o ser humano já produziu enquanto conhecimento e o que ele ainda pode produzir, enquanto novidades. mas a pergunta incômoda é: como fazer?

a criança chega ao mundo e já começa a aprender com ele. os conhecimentos que ela vai assimilando, progressivamente vão sendo colocados em prática, em um constante teste para ver como tudo funciona e se realmente funciona. esse mundo é infinitamente desconhecido para a criança, assim como a criança é um ser desconhecido para o mundo. é nesse choque entre o antigo e o novo, entre a tradição e a sua renovação, entre a revelação do mundo e a criança, que acontece a descoberta do saber. com o conhecimento progressivo do mundo que a rodeia, a criança vai desenvolvendo e descobrindo a sua própria maneira de pensar esse mundo, ao mesmo tempo em que começa a conhecer a si mesma.

estamos todo o tempo lidando com novos conhecimentos por diversos meios tecnológicos e midiáticos, mas serão somente esses novos conhecimentos os que melhor dialogam com a juventude? as chamadas “velhas tradições” (contação de histórias, fábulas, mitologias, lendas, cantigas, história da filosofia, etc.) que ensinaram os homens e as mulheres mais notáveis de nossa história não deveriam ter um lugar privilegiado na aprendizagem de nossas crianças? o contato com a arte – seja ela da antigüidade clássica, da era moderna ou pós-moderna – não ajudaria as crianças a serem introduzidas no complexo sistema de nossa sociedade de maneira mais prazerosa (e isso não descarta o incômodo que a arte também nos provoca) e significativa? ao se refletir sobre o extenso passado da humanidade, não se compreenderia melhor o nosso presente e possibilitaria a construção de um futuro com pessoas mais conscientes de seus papéis políticos no mundo?

a história da humanidade é tão rica em culturas e descobertas científicas que pensar em estudar o mundo sob o prisma de sua tradição pode ser uma resposta. não se trata aqui de conhecimentos “conteudistas”, onde a criança assimila informações e as reproduz tal qual como as aprendeu. definitivamente não! trata-se de ensinar as nossas crianças a refletirem sobre a sua própria história, que é a história de toda a humanidade.