23.7.09

um prosac com cachaça, moça?

**
"— por favor!
antes, um copo d'água para engolir umas pastilhas de clichê"

...


sentada à mesa do bar
dá de ombros para ficar mais fácil escalar
os destroços de um predestino sem definição

repassa a lição de um sábio budista:
(são nos descaminhos que as frutas mais saborosas são comidas)

foi depois dessa descoberta que passou a se meter
em-beco-sem-saída
e passou a entender tudo a partir do ponto-de-vista da fotografia

mistura na bebida um pouco de luxúria e preguiça pra esquecer
o incômodo do sapato furado colado com chiclete

— há contra-gotas de alma na calma do vinho —
(receita médica guardada na bolsa)

um tempo fugaz a atropela a cem anos de solidão por hora
marcados no velocímetro

a ampulheta no meio da descida não pára para prestar socorro
e no fim do amor alguém lhe pergunta:
o que é eterno?
ela atropelada por um lado se vira sem responder
e segue a derramagem do tempo

espera a última gota d'areia cair

põe as cartas na mesa do bar
e se choca com a manchete do dia:
"suicídio no jornal, ninguém mais lê – esquece"


...


e ao encontrar-se na cartomancie o seu fastio, alguém grita:
"— mais uma bica de cachaça, garçom!
que essa moça tá precisando de mais precipício na veia
e espanto na hora da queda"


...


[instante congela]
uma paradinha para apreciar
a última gota d'areia em suspensão


!


[descongela]

Ufa! de chapada não cai,

...


e dorme na mesa do bar o sono dos anjos

**

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