16.7.09

eis o enigma que grotowski suscita :: a pergunta essencial

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"Porém, o fenômeno existe e a pergunta foi feita. Qual pergunta? A pergunta: “o que é essencial? O que é verdadeiramente essencial?”

Um dia Persifal chegou ao castelo do Rei Pescador, o rei estava paralisado, todo o reino estava em decomposição, as mulheres não procriavam, as árvores não davam frutos, as vacas – leite: esterilidade, total ausência de fertilidade. Sentado à mesa convival Persifal avistou um cortejo com uma virgem que carregava um vaso estranho, o cortejo atravessava a sala, saía, depois de algum tempo voltava e a coisa se repetia. Persifal não perguntou nada, a atmosfera do castelo lhe parecia um tanto singular; como se no ar se levantasse algo de obscuro. De manhã percebeu que o castelo estava vazio. Pensou que talvez a caça tivesse engolido todos, montou a cavalo e se pôs a caminho. Enveredou-se pelo bosque, onde se deparou com uma jovem mulher que tinha no colo o corpo morto do amado; então, virou-se para ela dizendo: “o que acontece neste castelo?” – “Você viu o cortejo?” – “Sim”. – “Com a mulher que carregava o vaso?” – “Sim”. – “ E você perguntou?” E Persifal respondeu: “Não, não perguntei”. – “Não perguntou e pela sua falta de curiosidade as mulheres não podem gerar, as árvores não podem dar frutos, as vacas não dão leite e o rei está paralisado. Você não perguntou”.

Creio que quando fazemos as perguntas fundamentais, ou mesmo uma pergunta fundamental, porque na realidade existe talvez só uma, é fácil acabarmos sendo considerados loucos (...) e talvez sejamos loucos (...). Passo a passo a nossa vida vai se transformar, lhe será imposta uma certa linha, uma qualidade totalmente diferente daquela que desejávamos e estaremos repletos de sofrimento, de tristeza e muito sós. Eis porque creio que não se deva repetir o erro de Persifal."

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bibliografia degustada:

GROTOWSKI, Jerzy. "Teatro e Ritual" in: Teatro laboratório de Jerzy Grotowski 1959 - 1969. São Paulo: Perspectiva, 2007. p. 136.

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