8.12.08

catar feijão :: joão cabral de melo neto


Catar feijão se limita com escrever:
Jogam-se os grãos na água do alguidar
E as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
pois catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

Ora, nesse catar feijão entra um, risco
o de que entre os grão pesados entre
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com risco.

***

depois de escrever catar-feijão me lembrei do poema de joão cabral de melo neto que leva o mesmo nome. sem querer comparar os dois, absolutamente. os versos do poeta engendram um meta-poema, fala do labor de escrever poesia, de selecionar as palavras, de escolhê-las com um cuidado criterioso, de encontrar nessa faina a poesia da palavra-pedra, da palavra-palha, da palavra-feijão, sem música alguma. você lê o poema e as pedras pululam na boca. o meu, não quer falar de poesia, nem de pedra, nem de palavra, tampouco de feijão. é puro clichê e fácil de ler.

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