17.12.08

dylan thomas :: de tão intenso se fez etéreo




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NÃO ENTRES NESSA NOITE ACOLHEDORA
COM DOÇURA

Tradução: Ivan Junqueira


Não entres nessa noite acolhedora com doçura,
Pois a velhice deveria arder e delirar ao fim do dia;
Odeia, odeia a luz cujo esplendor já não fulgura.

Embora os sábios, ao morrer, saibam que a treva
[lhes perdura,
Porque suas palavras não garfaram a centelha
[esguia,
Eles não entram nessa noite acolhedora com doçura.

Os bons que, após o último aceno, choram pela
[alvura
Com que seus frágeis atos bailariam numa verde
[baía
Odeiam, odeiam a luz cujo esplendor já não fulgura.

Os loucos que abraçaram e louvaram o sol na etérea
[altura
E aprendem, tarde demais, como o afligiram em sua
[travessia
Não entram nessa noite acolhedora com doçura.

Os graves, em seu fim, ao ver com um olhar que os
[transfigura
Quanto a retina cega, qual fugaz meteoro, se
[alegraria,
Odeiam, odeiam a luz cujo esplendor já não fulgura.

E a ti, meu pai, te imploro agora, lá na cúpula
[obscura,
Que me abençoes e maldigas com a tua lágrima
[bravia.
Não entres nessa noite acolhedora com doçura,
Odeia, odeia a luz cujo esplendor já não fulgura.


DO NOT GO GENTLE INTO
THAT GOOD NIGHT


Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.

Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.

Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.

Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.

Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.

And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless, me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.

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dylan marlais thomas nasceu no país de gales em 27 de outubro de 1914. conta-se que quando criança era um apaixonado por linguagem, seria um dos melhores alunos em língua inglesa, contudo, péssimo nas outras disciplinas. deixou a escola aos 16 anos. aos 20 anos edita seu primeiro livro de poesia chamado Eighteen Poems (1934), um sucesso de crítica na época. no início dos anos 50, década de sua morte funesta por excesso de alcool aos 39 anos, dylan thomas vai para os EUA e depois de vários escândalos-poéticos na boemia americana, se torna mito e é louvado por toda geração beat, influenciando inclusive a música pop. extremamente lírico, teatral e romântico, dylan thomas conquistou platéias com as leituras inflamadas de seus poemas em teatros e universidades. seus poemas resultam de uma irreverência contagiante, de uma agressividade avassaladora e de uma ternura lírica de pura musicalidade que incita necessariamente a transgressão das regras e das convenções socio-políticas.

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"poesia é aquilo que me faz rir, chorar ou uivar, aquilo que me arrepia as unhas do dedo do pé, o que me leva a desejar fazer isso, ou aquilo, ou nada."
(dylan thomas)


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