1.12.08

dois mundos

a miguel de unamuno

estou farta do mundo sensível da fome
deste mundo sensível filho da fome
que cega os sentidos
e cala devaneios
tira o gosto das cores da boca
e a dança da música agrio que baila o silêncio

estou farta do mundo sensível da fome
deste mundo sensível filho da fome
que mata de úlcera
todos sonhos dalva
quero o tempo dos ventos nos pelos
o verde sem medo de áspide que envenena os ensejos

e quando saborear o mundo ideal do amor
sim, o mundo ideal filho do amor!
quem poderá dizer: qual quimera!?
quem poderá provocar a sua inexistência?
se sinto em mim florear um corpo idílico,
se me flama a sua frágil persistência?

ah! homem de carne e osso
que não se farta de vida
para garantir sua fome de existência

***


esse poema eu escrevi a anos atrás quando estava submergida na filosófica leitura existencialista Do Sentimento Trágico da Vida de miguel de unamuno e totalmente contagiada de sua linguagem e pensamentos que ele me instigava. além de filósofo, foi poeta e escritor espanhol da famosa geração de 98 - fins do sec. XIX. dentre às anotações de minhas leituras eu encontrei algumas citações célebres deste livro, de grifo meu, que marcaram o meu jeito de pensar deus, religião, política e revolucionou a forma de me sobre-pensar, enquanto ser quase onisciente de mim mesma:

"Nós só vivemos contradições e para as contradições; a vida é tragédia e luta perpétua sem vitória e sem esperança de vitória; ela é contradição"

“O homem concreto, de carne e osso, é o sujeito e, ao mesmo tempo, o supremo objeto de toda filosofia.”

“Assim, o que mais nos deve importar num filósofo é o homem”

“A filosofia é um produto humano de cada filósofo, e cada filósofo é um homem de carne e osso que se dirige a outros homens de carne e ossos como ele. Faça o que fizer, filosofa, não apenas com a razão, mas com a vontade, com o sentimento, com a carne e com os ossos, com toda a alma e todo o corpo."

"A fé, a vida e a razão se necessitam mutuamente. O anseio vital não é propriamente problema, não pode adquirir estado lógico, não pode formular-se em proposições racionalmente discutíveis, mas se coloca a nós, como a nós se coloca a fome. Um lobo que se lança sobre a sua presa para devorá-la ou sobre a loba para fecundá-la também não pode colocar-se racionalmente, e como problema lógico, o seu impulso.”

“Não basta pensar, é preciso sentir nosso destino”


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