eduardo galeano
(tradução livre :: patricia mc quade)
De joelhos no confessionário, um arrependido admitiu que era culpado de avareza, gula, luxúria, preguiça, inveja, soberba e ira:
Jamais me confessei. Não queria que os senhores, os padres, se deleitassem mais que eu com meus pecados, e por avareza os guardei para mim.
Gula? Desde a primeira vez que a vi, confesso, o canibalismo não me pareceu tão mal.
Chama-se luxúria isso de entrar em alguém e perder-se ali dentro e nunca mais sair?
Essa mulher era a única coisa no mundo que não me dava preguiça.
Eu sentia inveja. Inveja de mim. Confesso.
E confesso que depois cometi a soberba de crer que ela era eu.
E quis quebrar esse espelho, louco de ira, quando não me vi.
Gula? Desde a primeira vez que a vi, confesso, o canibalismo não me pareceu tão mal.
Chama-se luxúria isso de entrar em alguém e perder-se ali dentro e nunca mais sair?
Essa mulher era a única coisa no mundo que não me dava preguiça.
Eu sentia inveja. Inveja de mim. Confesso.
E confesso que depois cometi a soberba de crer que ela era eu.
E quis quebrar esse espelho, louco de ira, quando não me vi.
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bibliografia: GALEANO, Eduardo. Bocas del tiempo. Buenos Aires: Catálogos, 2004. p. 12.
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