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o sono tarda e não há fala que se possa entender
no farfalhar das asas da graúna há uma voz que falha e falta
insisto num canto que entoe aquela melodia vaticínia:
esse corpo acanhado em vibrações a ponto de entreguar-se ao
som da sinfonia
uma combinação harmoniosa e inexpressiva de ruídos que vem do norte do sul do leste quiçá do oeste acaba por zunir
essa sonata
ela oscila meu estado anímico.
corro meus pensamentos e me adentro em um
subterrâneo ontológico
mergulho no céu de ninguém: este ser múltiplo e concreto da realidade que me assalta nesse exato momento em que transcorre o ocaso e o nascer do sol
não há data e hora marcada.
há sim no ar um convite a outros pardejos canários
pássaros pretos para compor um só canto primitivo
que ele se estenda livre em seu desafino e desfie as
fronteiras da noite vociferando melodias
que nunca foram cantadas
que nunca foram bailadas
enquanto ele não vem percebo
— ocupo um ninho que não é meu —
meu corpo é demasiado grande para caber dentro desta
circunferência demasiada inospitaleira.
ou demasiado pequeno para me aninhar nas crises de
hiperafrodisia.
[elas em largas vigílias me desacatam]
nessa inteireza auto-sugestiva percorro os sonos que roubei.
passeio pela insônia de outrem.
busco por um ninho insonhável.
me dedico a essa falta de princípios e nem fins.
cuchilo num átimo de milésimo de segundo
[...]
me desperto enevoada
volto ao tempo dos relógios e dos picos solares
dos compromissos e dos assombros diários
sonâmbula me levanto:
e eis que surge o dia no repique acústico do galo vizinho.
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