Beijo fala por ela.
Se a boca não se cala
Cala com beijo nela.
Se a boca nem se fala
não dá tempo pra ela.
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“falando claro: o maravilhoso é sempre belo, qualquer maravilhoso é belo, só mesmo o maravilhoso é belo”.
(andré breton, Manifesto Surrealista, 1924)
"a única palavra de liberdade é tudo o que me exalta ainda. eu a creio apropriada a entreter, indefinidamente, o velho fanatismo humano. (...) onde começa ela [a imaginação] a se tornar má e onde pára a segurança espiritual? para o espírito, a possibilidade de errar não será antes a contingência do bem?"
"não será o temor da loucura que nos forçará a hastear a bandeira da imaginação a meio pau".
"(...) a atitude realista, inspirada no positivismo, de santo tomás a anatole france, tem um ar hostil e todo arrojo intelectual e moral. tenho horror a ela, pois é feita de mediocridade, de ódio e suficiência sem atrativo".
"o espírito do homem que sonha se satisfaz plenamente com o que lhe acontece. a angustiante questão da possibilidade não se lhe apresenta mais. mate, roube mais depressa, ame tanto quanto quiser. e se você morrer, não tem você a certeza de despertar dentre os mortos? deixe-se levar, os acontecimentos não toleram que você os retarde. você não tem nome. a facilidade de tudo é inestimável".
“nestes quadros que nos fazem sorrir, no entanto sempre se pinta a inquietação humana, e é por isso que os levo a sério, que os julgo inseparáveis de algumas produções geniais, as quais, mais que as outras, estão dolorosamente impregnadas dessa inquietação”.
se quiser o manifesto surrealista na íntegra, acesse aqui.
boa leitura!
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vladimir kush nasceu em moscou no ano de 1965. a partir de 1990 começa a definir melhor a sua estética artística com muito brilhantismo e criatividade ao reinventar o surrealismo.
Fred Steffen, ator do Teatro Oficina, escreveu esse texto no calor da hora do “rito rave teatral” que aconteceu dia 28/10/08 na sede do grupo. Espécie de espetáculo-panorama onde foram encenados trechos de peças que marcaram a história da companhia. Faz parte das comemorações de 50 anos do grupo Oficina que contou com a participação especial de Maria Alice Vergueiro e happining com o público que compareceu levando vinho e presentes.
“A arte do seu canto constela experiência musical e vivência cênica. Ao longo de profundas imersões teatrais, entre as quais o Teatro Oficina, ele vislumbrou que um ator, se não for cantor, não é ator – e vice-versa. A voz carrega o espaço em si e o faz voar. Primeiro e último passo: tomar conta do espaço. E agora o espaço é a cidade, tanto o da avenida quanto o da alma, cujas paredes são o cenário que urge derrubar e cantar e recriar”. (vadim nikitin)
fico admirada ao ver como o público mineiro apresenta limitações quando se trata de conhecer o que ainda não se foi visto aqui em minas. esse mesmo público se sente ofendido e não gosta de ser chamado de público provinciano, ou mesmo reacionário no sentido de ser avesso às mudanças de perspectivas e gostos musicais, por exemplo. tudo tem no fundo no fundo um sentido político, de ordem estética, arraigada nas estruturas sociais mineiras, tradicionais demais, habituais demais, conservadoras demais. fazer o quê? portanto, a minha indignação me remete, ainda que tardia, a colocar a boca no trombone.
estou falando do show de celso sim, vamos logo sem paredes, apresentado na sala joão ceschiatti, palácio das artes, nos dias 30 e 31 de outubro. acompanhado pelos músicos da voodu music: paulo lepetit, no baixo e violão; gigante brazil, (que não pôde participar do show em bh pois 'partiu desta pra melhor' em fins de setembro) na bateria e voz; marcelo jeneci, no piano e acordeon; o cantor deu um verdadeiro show de qualidade musical, composição variada, irreverência performática, sensualidade no gingado e muito, muito carisma para um público que não ultrapassou, na noite de sexta-feira (!), a 20 pessoas. o anfitrião foi o nosso tão conhecido kristoff silva, parceiro de guitarra e voz que deu uma canja no show em bh e demonstrou ter muita intimidade musical com o visitante vindo de sampa.
o título do cd é um tapa de luva de pelica nesse público que não sabe derrubar as paredes do convencionalismo midiático circunscrito em si, o cabresto dos meios de comunicação de massas que faz a maioria das pessoas a dar voltas e voltas no moinho dos mesmos artistas de carreira estável nas paradas de sucesso – não quero aqui tirar-lhes o mérito de suas qualidades musicais, mas pagar o preço absurdo de 100 reais, por exemplo, em um show da adriana calcanhoto, ainda que eu seja fã dela, é no mínimo uma falta de noção ao pensar que essa quantia é praticamente um quarto do salário mínimo brasileiro. o show, celso sim, vamos logo sem paredes, teve o preço popular de 15 reais a inteira e
a história desse título nasceu de uma conversa com uma amiga-atriz crente do candomblé e celso sim leva essa proposta-mantra “vamos logo sem paredes” até as últimas conseqüências e nomeia com ele o seu mais novo cd. artista não-comercial atua como protagonista do espaço urbano, combatendo os obstáculos capitalistas e os de meios de controle político e de produção cultural: não vende a sua música por uso abusivo e deliberado de dissonância monetária, não se compromete às propostas mercadológicas do universo “fonosônico” das gravadoras. celso parece levar ao pé da letra os conselhos de seu amigo e comparsa miguel wisnik, de que a arte deve ser descompromissada com o lucro, portanto, deve ser livre e fiel ao seu criador-atuador. celso sim disponibiliza suas gravações para downloads gratuitos no seu site oficial:
http://www.vamoslogosemparedes.com.br/
Entre os compositores das músicas interpretadas por celso sim neste cd estão: adoniran barbosa, arthur nestrovski, cacá machado, fred martins, guilherme wisnik, heinrich heine, marcelo diniz, paulinho da viola, pepê mata machado, pixinguinha, robert schumann e vadim nikitin.
é vigoroso! basta considerar o timbre lívido da voz vibrante e comovente de celso sim, sem falar dos arranjos primorosos de gigante brazil e paulo lepetit e a amplitude sonora que o conjunto dessas vibrações provocam no ouvinte. é poético! além de uma verdadeira identidade que em sua arte revela puro lirismo e confunde arte-vida, podemos ainda degustar poemas musicados de oswald de andrade — chove chuva choverando — e álvaro de campos — saudações a walt whitman. é contagiante! não é preciso dizer que a vontade de dançar e sacudir todo o corpo é inebriante, provoca enleio, êxtase corporal e nos evoca as vozes silenciadas de nosso eu convidando-nos a cantar e a bailar junto.